Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2012 - Page 12
Tema 1
Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (4), pp. 10–12
Síndrome compartimental
crónico de esforço no
antebraço
Dr. Moisés Henriques
Médico Naval, Centro de Educação Física da Armada; Médico Interno de Medicina Física e de
Reabilitação, Centro Hospitalar Lisboa Norte – Lisboa
linhas de montagem ou operadores
de teclado)5–10.
A suscetibilidade individual para
esta situação clínica é desconhecida9.Pritchard et al. assumem que
existe aumento da incidência com
a idade, a par dos anos de atividade
desportiva ou laboral. Wilder e Sethi
admitem que as mulheres podem
ser mais suscetíveis para a síndrome
compartimental na perna4. É possível que o mesmo possa acontecer no
antebraço.
Anatomia
RESUMO ABSTRACT
O síndrome compartimental crónico de esforço do antebraço é uma causa comum e
subestimada de dor incapacitante em desportistas e trabalhadores manuais. O diagnóstico desta patologia assenta numa história clínica caraterística e na medição de pressões
intra-compartimentais. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, mas apenas este
último é definitivo.
The chronic exertional compartment syndrome of the forearm is a common and underestimated
cause of disabling pain in the athletes and manual workers. This pathology diagnosis is based on a
characteristic clinical history and intra-compartmental pressures measurement. Treatment can be
conservative or surgical, but only the last one is definitive.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
O antebraço já foi descrito como
tendo dois a quatro compartimentos
musculares e dois compartimentos
ósseos. Na classificação tricompartimental (Figura 1) são considerados
os compartimentos lateral, posterior
e anterior (dividido em superficial e
profundo no modelo de quatro compartimentos)2,5,10,11.
Síndromes compartimentais, antebraço, pressão.
Compartment syndromes, forearm, pressure.
Definição
Epidemiologia
A síndrome compartimental é uma
condição que ocorre quando a pressão intersticial dos tecidos aumenta
e, estando estes num espaço confinado, atinge valores que impossibilitam a oxigenação adequada dos
tecidos. Este facto, em última análise, induz isquémia local e necrose
celular nos tecidos afetados.
Esta patologia desenvolve-se por
aumento do volume do compartimento ou compressão externa e
pode ser genericamente classificada
como aguda ou crónica de acordo
com o perfil da pressão intersticial.
As etiologias subjacentes também
diferem1–3.
A síndrome compartimental
crónico ocorre quando a pressão
intracompartimental (Pic) aumenta
transitoriamente. Associa-se quase
sempre à prática de exercício físico
ou a movimentos repetitivos, tendo
sido denominada de síndrome
compartimental crónica de esforço
(SCCE) 1–7.Assim sendo, também
os efeitos deletérios e sintomas
são transitórios, resolvendo com o
repouso2–4.
Apesar da síndrome compartimental aguda ser globalmente a
forma mais comum de apresentação, a SCCE adquire um importante
papel no mundo do desporto e da
prática de exercício físico2.
Cerca de 95% dos SCCE ocorrem na perna3. Os restantes casos
distribuem-se por outras regiões dos
membros2,3. No membro superior,
o antebraço é a localização mais
frequente de síndrome compartimental2.
A SCCE no antebraço pode
considerar-se rara, contudo a sua
incidência está subestimada face
ao subdiagnóstico3,7–9. A literatura
é escassa no que concerne a esta
localização de SCCE e a maioria
dos artigos são casos clínicos com
apenas um doente5,6,8. Piasecki et al.
reportaram em 2008 a publicação
de 25 casos. Os casos identificados
estão associados à prática desportiva (motociclismo, windsurf,
escalada, kayaking, levantamento de
pesos, hóquei em campo, basebol,
esqui de água e desporto em cadeira
de rodas), mas também a atividades
laborais manuais (trabalhadores em
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Figura 1 – Anatomia compartimental do
antebraço.
A fáscia que envolve os músculos
do antebraço é pouco elástica devido
à natureza e orientação das fibras
de colagénio que a constituem, mas
permite a comunicação entre os
vários compartimentos2,7,8,11. Este
pormenor possibilita que a descompressão de um compartimento possa
diminuir a pressão dos restantes2,11.
Fisiopatologia
A SCCE desenvolve-se devido ao
aumento do volume intracompartimental. A causa subjacente ao despoletar do mesmo é ainda ignorada,
mas o mecanismo fisiopatológico
envolvido parece ser consensual2,3,9.
Este último está acoplado à prática
regular de atividade física caraterizada por movimentos repetitivos
e que carecem de grande esforço
muscular2,6,9.