Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 25

estirar e enfraquecer os músculos a longo prazo, predispondo à IU. 4,6,9 Em conclusão, existem duas hipóte- ses opostas sobre o efeito da prática desportiva sobre os músculos do pavimento pélvico, com provável efeito de ambos os mecanismos na IU das atletas. para uma consulta de Medicina Física e de Reabilitação. Esta con- sulta incluiu a história clínica (ava- liação mais detalhada dos sintomas urinários) e o exame objetivo, com realização do stress test, avaliação do trofismo vaginal, da contração voluntária dos MPP (de 0 a 5, de acordo com a Medical Research Coun- cil) e, se possível, do resíduo pós- -miccional. Ainda se deveria aplicar o questionário International Consul- tation of Incontinence Questionnaire – Short Form (ICIQ-SF) para avaliar a frequência, gravidade e o impacto da incontinência urinária. Caso se justifique, poderão ser solicitados exames complementares de diag- nóstico, nomeadamente sedimento urinário, ecografia renovesical e/ou estudo urodinâmico. Por fim, será orientado o tratamento de reabilita- ção supervisionado e feitos ensinos para o domicílio. 11 Impacto e avaliação da incontinência urinária Apesar do impacto na qualidade de vida esta patologia é subdiagnosti- cada, menos de metade das mulhe- res com IU procura ajuda médica. 8 A IU pode ser uma barreira na participação da modalidade a longo prazo, podendo levar, inclusive, ao abandono da mesma. 4 Neste sen- tido, torna-se necessário fazer uma avaliação desta população. Recomenda-se que todas as jovens atletas deveriam responder a um questionário de rastreio de IU, que incluísse dados sobre o desporto pra- ticado, as situações de perda urinária e o seu impacto na prática desportiva. Este poderia ser aplicado pelo médico de família ou pelo médico do clube. 10 Caso o rastreio seja positivo, as atletas devem ser encaminhadas Tratamento da incontinência urinária Dependendo do diagnóstico presu- mível – IU de esforço, IU mista ou bexiga hiperativa com ou sem IU de urgência – existem diferentes 1. Qual é o desporto que pratica? 2. Número de horas por semana de prática desportiva: 3. Já teve perda urinária durante a prática desportiva? Nunca Apenas 1 vez Raramente Às vezes Frequentemente Em todas as sessões desportivas 4. Em que situações é que tem perda urinária? Corrida Salto Levantar pesos Ida ao WC (com forte vontade) Dança Espirro Tosse Riso Tocar em água 5. Tem necessidade de usar penso diário? Sim Não Se sim quantos por dia? 6. Como descreve as suas perdas urinárias? Algumas gotas Pequena quantidade Moderada quantidade Grande quantidade abordagens terapêuticas. 11 Sendo a IU de esforço o subtipo mais comum nas atletas, a reabilitação do pavimento pélvico é o trata- mento de primeira linha, apresen- tando evidência nível A. 12 Não está definido nenhum proto- colo ideal. Para além da reeducação dos músculos do pavimento pélvico/ core abdominal podem, ainda, ser utilizadas outras técnicas adjuvantes como o biofeedback, a eletroestimu- lação e os cones vaginais. 4 A reabili- tação tem como objetivo provocar a rápida e eficaz contração desta mus- culatura antes e durante o aumento súbito da pressão intra-abdominal, de forma a prevenir as perdas uriná- rias. O treino destes músculos torna mais imediata a contração automá- tica do pavimento pélvico, evitando deste modo a perda de urina. 13 Para a maioria das atletas, que são nulíparas e não apresentam lesões de estruturas pélvicas resultantes da gravidez ou parto, é de esperar que o treino de fortalecimento dos músculos do pavimento pélvico seja igualmente ou ainda mais eficaz do que na população geral. 4 Concomitantemente, o treino vesical é fundamental. Está descrito que a maioria das atletas esvazia a bexiga antes dos treinos e das com- petições desportivas. É importante educar a atleta sobre os seus hábitos miccionais, de forma a ter um regime de micção programado para prevenir possíveis perdas urinárias. 14 Relativamente ao tratamento far- macológico, os anticolinérgicos são comummente utilizados na IU de urgência. Todavia, nas atletas não se encontram recomendados por inter- ferir no mecanismo de sudação. 4 Para além disso, os fármacos não conseguem tratar os fatores anató- micos alternados na IU de esforço. 12 O tratamento cirúrgico está recomendado em situações refratá- rias ao tratamento conservador ou quando as perdas urinárias são bas- tante incapacitantes para a atleta. 4 7. Qual é o impacto da perda urinária na prática desportiva? Nenhum Leve Moderado Elevado Prevenção da IU nas atletas 8. Numa escala de 0 (não interfere) e 10 (interfere muito) em quanto as perdas urinárias interferem na sua prática desportiva? 0 1 2 3 4 9. Já ouviu falar de fisioterapia para as perdas urinárias? Sim 5 6 7 8 Não Adaptado de The Prevalence of Stress Urinary Incontinence in High School and College-Age Female Athletes in the Midwest: Implications for Education and Prevention 9 10 Tendo em conta a elevada prevalên- cia desta patologia em atletas, torna- -se fundamental a sua profilaxia, pelo que existem alguns exercícios que poderão ser utilizados, como Revista de Medicina Desportiva informa janeiro 2020· 23