Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Seite 4
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_2020_1
Dra. Rita Tomás
Unidade de Saúde
e Performance da
Federação Portuguesa
de Futebol
Clínica CUF Alvalade.
Lisboa
Especializou-se primeiro em
Medicina Física e Reabilitação e
depois em Medicina Desportiva
(MD). Qual é a especialidade
que a entusiasma mais?
Terminei o internato de Medicina
Física e de Reabilitação (MFR)
em 2011 e fiz exame de MD em
2015. Gosto muito de ambas
as especialidades, não consigo
colocar uma à frente da outra...
É como dois filhos, gostamos de
igual modo dos dois! Dentro da
MFR exerço sobretudo na área da
reabilitação músculo-esquelética, o
que ocupa grande da minha atividade
clínica. Na área da MD sigo muitos
desportistas de nível recreativo (trail,
corrida, futebol, padel, etc.) e traba-
lho com atletas de elite no futebol
feminino. O meu interesse pela MD já
vem dos tempos de faculdade, desde
2002 que não falto a um congresso
da Sociedade Portuguesa de Medicina
Desportiva (SPMD)!
Atualmente é a médica da seleção
nacional de futebol sénior feminina.
Como é esta função?
Estou nesse cargo desde Janeiro de
2018, já depois de ter estado com
diferentes seleções jovens femini-
nas de futebol e futsal desde 2011.
Ser médica de uma seleção é uma
atividade pautada por momentos
de grande intensidade, estágios com
duração de cerca de 10 dias que
decorrem 6 a 8 vezes por ano, em
que estamos com a equipa a tempo
inteiro. Poderão existir estágios mais
longos, entre um mês a mês e meio
no caso de participarmos em fases
finais de campeonatos. Ser médica de
equipa implica ser responsável pelos
cuidados médicos e bem-estar das
jogadores e staff, supervisionar toda
a alimentação, hidratação e articular
com a equipa técnica questões como
2 janeiro 2020 www.revdesportiva.pt
a recuperação, return to play e apti-
dão para treino/jogo. Entre estágios
também existem tarefas a cumprir,
como preparar questões de logística
e material para a próxima atividade/
viagem, monitorizar o estado clínico
de todas as potenciais jogadoras
convocáveis e fazer o seguimento de
jogadoras que estão lesionadas, em
articulação próxima com os departa-
mentos médicos dos clubes.
Mas também tem tido grande
atividade na Sociedade Portuguesa
de Medicina Desportiva (SPMD)...
Sim, nos últimos três anos fiz parte
da Direção, o que me possibilitou
estar mais envolvida nas atividades
da SPMD. Tenho algumas áreas de res-
ponsabilidade, como a dinamização
das redes sociais da SPMD, a coorde-
nação do grupo de Estudo de Saúde e
Exercício e agora na articulação com
a Revista de Medicina Desportiva
Informa. Em Maio de 2017 fui pre-
sidente das 15ª Jornadas em Lisboa
com o tema ““Prescrição de Exercício:
Uma Aposta Para Ganhar Saúde”” e
em Novembro de 2018 presidente do
14º Congresso Nacional de Medicina
Desportiva em Braga. O congresso foi
um desafio, quisemos construir um
programa aliciante e inovador, com
convidados nacionais e internacionais
e com cursos pré-congresso, como o
de procedimentos eco-guiados em
MD. Com um FORTE apoio de Braga
Cidade Europeia do Desporto atingi-
mos plenamente os nossos objetivos
e tivemos uma forte participação de
inscritos e trabalhos!
Ocupa um importante lugar
editorial entre a SPMD e esta
Revista ...
É um cargo recente, fruto da colabo-
ração da SPMD com esta importante
publicação na MD em Portugal,
iniciada em Setembro de 2019. Sou
leitora assídua da revista desde do
primeiro número há 10 anos! Espero
dar o meu contributo para que a
Revista continue a crescer e cumprir
um papel importante de divulgação
científica na área da MD escrita em
Português!
E a atividade física como elemento
terapêutico e promotora de saúde?
Há muito anos que acredito que
“exercício é saúde“ e tento a cada
consulta influenciar as pessoas
que tenho à frente. Se já são ativas,
reforçar a importância de o serem e
tentar diminuir o seu risco de lesão,
e para quem é sedentário, aproveitar
o momento em que me procuram –
muitas vezes por queixas que seriam
evitadas ou melhoradas por atividade
física regular – para as incentivar a
adaptar um estilo de vida mais ativo.
Com a criação do Programa Nacional
para a Promoção da Atividade Física
da Direção Geral de Saúde, a ligação
da saúde com e exercício está mais
vincada, com intervenções a decor-
rer ao nível dos cuidados primários.
Também a Federação Portuguesa de
Futebol tem promovido a atividade
física, através do futebol recreativo e/
ou walking football, com atividades na
comunidade e também em popu-
lações clínicas, como pessoas com
diabetes tipo 2 no projeto SWEET Foo-
tball. Ser fisicamente ativo é a chave
para uma maior longevidade, melhor
qualidade de vida e autonomia!
Acha que a investigação científica
na MD tem andado bem?
Tem havido desenvolvimentos, mas
ainda há muito por saber, claro! Noto
com satisfação que há um maior
interesse em investigar a mulher
atleta, que é uma área em que sabe-
mos pouco e acabamos por utilizar os
estudos feitos em homens para orien-
tarmos a nossa prática clínica. Creio
que será uma área de grande cresci-
mento nos próximos anos e espero
também poder contribuir com algum
novo conhecimento!
Faça um desejo para a Medicina
Desportiva.
Que continue a crescer, a renovar-se
e que se afirme como especialidade
médica no acompanhamento de
todas e todos que são fisicamente ati-
vos, desde o atleta do walking football
até ao atleta de Seleção Nacional!