Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 8
quando o ECG de repouso é ininter-
pretável (por ex. BCRE) deverá fazer
um teste de isquemia por imagem,
sendo preferível o exame onde no
local onde é realizado existe melhor
experiência e disponibilidade (RMN
com perfusão ou ecocardiograma
de stress ou mesmo cintigrafia de
perfusão miocárdica com radioisó-
topos). Se há isquemia, então um
AngioTC e SC deverá ser realizado
para indicar a eventual necessidade
de cateterismo cardíaco. Os auto-
res referem adicionalmente que a
presença de DAC não contraindica
em absoluto a prática de exercício
físico regular, exceto se a idade for
superior a 60 anos e os desportos
sejam de alta intensidade (triatlos,
maratonas, etc). Todos devem ser
revascularizados na presença de
DAC funcionalmente significativa e
os fatores de risco tratados de modo
agressivo.
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6 janeiro 2019 www.revdesportiva.pt
Os anti-inflamató-
rios não-esteroides
(AINEs 3 ) são Actualmente fármacos
de venda livre, sendo muito utili-
zados pela população pelas suas
propriedades analgésicas, anti-
-inflamatórias e antipiréticas. Os
atletas amadores e profissionais não
só são consumidores, como chegam
mesmo a registar taxas de utilização
superiores, sendo que alguns atle-
tas tomam estes fármacos com o
intuito de adquirirem uma vantagem
competitiva. Neste artigo, os autores
fazem uma exposição dos vários
trabalhos publicados sobre os efeitos
dos AINEs no rendimento despor-
tivo, na resposta aguda ao exercício
e na adaptação ao treino a longo
prazo. Relativamente ao rendimento
desportivo, os primeiros trabalhos
foram realizados nos anos 90 com o
ácido acetilsalicílico (AAS). Concluiu-
-se que uma toma única de AAS (em
doses de 650mg ou 1000mg) antes de
uma prova não alterava o desempe-
nho. Foram também feitos estudos
com o paracetamol, sendo que com
este fármaco se verificou efetiva-
mente uma melhoria no rendimento
desportivo atribuída a vários fatores:
(1) maior tolerância à dor, (2) menor
perceção da intensidade do esforço
executado e, relacionado com os
dois primeiros, (3) atraso no apareci-
mento da fadiga neuromuscular. Esta
vantagem competitiva foi também
verificada para esforços realizados
em ambientes com temperatura
elevada (30°C), onde a temperatura
corporal registada foi significativa-
mente inferior aquando da utilização
do placebo, sugerindo que o efeito
antipirético do paracetamol se possa
eventualmente estender aos indi-
víduos apiréticos. Relativamente à
resposta aguda ao exercício, alguns
estudos feitos com ibuprofeno e
paracetamol (1200mg/d e 4000mg/d,
respetivamente) mostraram supres-
são da síntese proteica no músculo-
-esquelético após um exercício de
resistência com contrações excêntri-
cas e pelo menos parte desta supres-
são parece poder ser explicada pela
diminuição da sinalização e transcri-
ção genética. Contudo, nem todos os
estudos com AINEs demonstraram
redução da síntese proteica, possi-
velmente por diferenças ao nível do
protocolo e da via de administração
do fármaco. De notar também que
esta supressão da síntese proteica
não se verificou com os inibidores
seletivos da COX-2 (coxibs), o que
aponta a COX-1 como responsável
pelo aumento da síntese proteica
no processo de reparação após o
treino de resistência. Outra alteração
provocada pelos AINEs, e também
aparentemente pela inibição espe-
cífica da COX-1, é a atenuação do
aumento do número das células
estaminais miogénicas, aumento
este que é normalmente induzido
pelo exercício e que se pensa ter um
papel importante na reparação das
fibras musculares. Relativamente à
adaptação ao treino a longo prazo, a
evidência preliminar parece mos-
trar uma diferença na resposta aos
AINEs consoante a idade: a resposta
de adaptação ao treino (exemplo,
massa muscular) sofre atenuação
nos indivíduos jovens, enquanto nos
indivíduos mais velhos (60-80 anos)
parece aumentar face ao placebo.
Uma explicação avançada para esta
diferença reside no eventual estado
pró-inflamatório de base da popu-
lação idosa. Os autores abordam
ainda o conceito de “dicotomia da
recuperação”: por um lado, pode ser