Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 7
exercício também pode aumentar o
risco de eventos CV, particularmente
naqueles com doença cardíaca exis-
tente, mas desconhecida. 2
A grande maioria das paragens
cardíacas relacionadas com o des-
porto ocorre em homens, com uma
proporção de 9:1 entre homens e
mulheres 3 , aumentando para 20:1
em veteranos. 4 Espera-se que a inci-
dência aumente à medida que um
número crescente de indivíduos de
meia-idade ou mais velhos pratique
desportos, sobretudo extenuan-
tes, como a maratona. Enquanto
que a morte súbita cardíaca (MSC)
em atletas mais jovens é principal-
mente causada por cardiomiopatias,
doença cardíaca elétrica e anomalia
congénita da emergência das coro-
nárias, a doença arterial coronária
aterosclerótica (DAC) é de longe a
causa mais comum (> 95%) de MSC
em atletas com mais de 35 anos. 3,4
Tradicionalmente pensava-se
que os eventos coronários agudos
induzidos por exercício resultavam
da rutura da placa aterosclerótica
e trombose coronária consequente.
Contudo, recentemente, num estudo
de MSC em corridas de longa distân-
cia 5 , a ausência na autópsia de rutura
da placa coronária em muitas vítimas
sugere que pode haver um papel cau-
sal mais significativo devido a isque-
mia grave por demanda significativa
em atletas com doença coronária
prévia desconhecida. Por conseguinte,
parece ser sensato a identificação
precoce de DAC no screening de atletas
veteranos (> 35 anos).
Até à data, os scores de risco CV
tradicionais, como o de Framingham
(FRS) e o da Sociedade Europeia de
Cardiologia (SCORE), assim como a
utilização da prova de esforço, têm
sido usados para identificar atletas
com alto risco de eventos cardíacos
relacionados ao exercício. Contudo,
estes scores de risco e a inclusão da
prova de esforço apresenta limita-
ções significativas, por um lado por
subestimar o risco em atletas, pois
não foram projetados para pessoas
fisicamente ativas, podendo os scores
de risco CV baixos darem uma falsa
sensação de segurança e, por outro
lado, a prova de esforço ser de valor
limitado para detetar DAC oculta
devido à sua baixa sensibilidade em
sujeitos sem sintomas com risco car-
diovascular baixo e intermédio. 6
O papel dos exames de imagem
na prevenção de eventos CV relacio-
nados com o desporto começou a
ser abordado no início desta década,
pelo que o artigo do Dr. Hélder Dores
et col 7 parece ter um papel impor-
tante no screening de veteranos (>
40 anos) assintomáticos através do
AngioTC e do Score de Cálcio (SC),
onde referem que esta nova meto-
dologia de imagem será mais eficaz
que a tradicional para o diagnóstico
do risco CV em atletas veteranos,
observação que vem corroborar tra-
balhos mais antigos. 5,8 Existe várias
limitações neste estudo, pois não é
estendido a mulheres atletas, tem
uma amostra pequena e, sobretudo,
não faz qualquer tipo de seguimento
para saber quais os doentes com
eventos futuros. O próprio autor
refere na discussão que a presença
de DAC não obstrutiva em assinto-
máticos não é contraindicação para
a realização de exercício físico. Será,
pois, no futuro, em estudos longitu-
dinais de follow-up, ser mais impor-
tante saber se o exercício físico será
eficaz em reduzir os eventos nomea-
damente fatais mesmo nos porta-
dores de DAC assintomáticos do que
saber o grau de aterosclerose.
Estudos recentes 9 confirmam
também que atletas de endurance
têm SC superior a sedentários com
o mesmo perfil de risco, indicando
possivelmente um mecanismo fisio-
patológico diferente na formação
de placas em atletas, sugerindo que
apesar da existência de um número
superior de placas elas serão mais
calcificadas e, por tal, mais estáveis
e com menor risco de síndromes
coronários agudos, não sendo pois
o exercício físico nefasto por conse-
quência.
Assim, atualmente 10 recomenda-
-se que atletas veteranos com DAC,
presente ou suspeita, devam realizar
teste de esforço como exame de 1ª
linha para avaliar atletas/doentes
que queiram realizar desporto de
competição. Se o teste de esforço
máximo for normal e se o perfil
de risco for baixo, a presença de
DAC significativa é extremamente
reduzida e nenhum teste adicional
deve ser feito e ao individuo é-lhe
permitido que faça desporto de com-
petição desde que o seu risco seja
avaliado anualmente. No caso de
um teste borderline ou equívoco ou
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