Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 32
também aos repetidos movimentos
muitas vezes intensos, com carga
e com amplitudes importantes de
flexão dos joelhos. 26
A lombalgia ocorre mais frequen-
temente nos praticantes da moda-
lidade de ballet contemporâneo.
Uma possível justificação para tal
é a maior frequência e amplitude
nos movimentos do tronco nesta
modalidade, incluindo hiperflexões,
extensões e lateralizações da coluna
lombar. Por sua vez, no ballet clás-
sico, devido à adoção frequente da
postura chamada cambreé (Figura 1),
em hiperextensão lombar, há
aumento da lordose lombar e predis-
posição para lesões em hiperexten-
são, nomeadamente das articulações
inter-apofisárias ou facetárias. 26
Nos membros superiores, as
lesões musculoesqueléticas mais
frequentes são contraturas e roturas
musculares. A tendinopatia da coifa
dos rotadores, que inclui desde
tendinites agudas a tendinoses e
e roturas crónicas estão também
relatadas na prática do ballet e são
mais frequentes nos praticantes do
sexo masculino devido ao frequente
suporte das bailarinas nos seus bra-
ços durante a prática de movimen-
tos complexos. 14
Em relação aos mecanismos das
lesões traumáticas, a grande maio-
ria ocorre durante saltos (no início
do movimento, durante a suspensão
no ar ou no regresso ao apoio no
solo) e a sua incidência depende, da
amplitude do movimento: 9.9% das
lesões ocorrem em saltos pequenos;
5.9% em médios e 9.0% em altos.
Alguns movimentos típicos mais
exigentes do ballet estão associados
a maior prevalência de lesões. Os
arabesques, posição em que o bai-
larino repousa o peso do seu corpo
sobre um membro inferior de base e
realiza hiperextensão e elevação da
Figura 3 – Movimentos típicos do ballet:
A – Arabesque na imagem da esquerda;
B – Portée na imagem da direita.
30 janeiro 2019 www.revdesportiva.pt
perna suspensa, estão associados a
7.1% das lesões ocorridas, enquanto
os portées, ato de segurar uma colega
bailarina em seus braços para que
ela realize algum movimento sus-
pensa no ar, estão associados a 5.2%
(Figura 3). 17
As atletas do sexo feminino apre-
sentam, em comparação com o sexo
masculino, uma maior incidência
de lesões isoladas sem recidiva e
têm menor taxa de complicações ou
sequelas. 27 Quanto à temporalidade,
é mais frequente uma janela média
de cerca de 24 horas entre o evento
do traumatismo e o relato da lesão
pelo atleta. 28 Já para o regresso à prá-
tica desportiva, as lesões mais gra-
ves que requerem maiores períodos
de repouso ou de reabilitação são as
fraturas da tíbia ou dos metatársi-
cos (35%), instabilidade crónica do
tornozelo (10%); síndrome facetário
da coluna lombar (9%) e radiculalgia
lombar (9%). 28,29
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Conclusão
Quanto maior o tempo de exposição
aos treinos, maior a frequência de
bailarinos e maior a sua gravidade ,
correspondendo, portanto, os atletas
profissionais aos maiores alvos de
lesões traumáticas neste desporto. 1,2
Essas lesões atingem múltiplos e dife-
rentes segmentos corporais do atleta
e estão intimamente associadas
aos movimentos típicos realizados
repetidamente neste desporto. 2,14-23
A elevada incidência de lesões em
bailarinos profissionais demonstra
a necessidade de implementação e
desenvolvimento de medidas pre-
ventivas, diagnóstico precoce e de
aplicação de um esquema terapêutico
precoce adequado para que os atletas
possam regressar brevemente e em
segurança à prática desportiva o
mais cedo possível. 1 Devem ser assim
incentivados estudos epidemiológicos
acerca de lesões traumáticas neste
desporto devido ao provável impacto
positivo que estes podem representar
na prevenção, no diagnóstico e no
tratamento precoce das lesões.