Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 27
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(1):25-27. https://doi.org/10.23911/psoasiliaco_miotend
Lesão Miotendinosa Parcial
do Músculo Iliopsoas em
Futebolista Profissional
Dr. Nuno Anjinho 1,4 , Dr. José Pedro Marques 2,4 , Dr. Sérgio Rodrigues Gomes 3,4
1
Fisioterapeuta; 2 Médico especialista em Medicina Desportiva; 3 Médico radiologista músculo-esquelético;
4
Unidade de Saúde e Performance da Federação Portuguesa de Futebol. Lisboa
RESUMO / ABSTRACT
As lesões agudas do iliopsoas são pouco comuns. Reportamos um raro caso de lesão
miotendinosa parcial do iliopsoas direito num jogador profissional de futebol esquerdino,
durante uma sessão de treino. Foi implementado o protocolo P.R.I.C.E coadjuvado por
agentes físicos e técnicas miofasciais, seguido por um programa de reabilitação com incre-
mento progressivo de carga. Este permitiu o regresso à competição sem limitações ao 13º
dia pós-lesão. Desde este dia o atleta não referiu qualquer queixa ou limitação funcional,
não tendo sido registadas recidivas ou intercorrências nos três meses seguintes.
Acute injuries of the Iliopsoas are uncommon. The authors present a rare case of a professional
soccer player, left footer, who sustained a partial myotendinous tear of the right iliopsoas during a
training session. We implemented a rehab protocol encompassing P.R.I.C.E, physical agents and soft
tissues techniques followed by progressive loading, allowing a successful return-to-play on the 13 th
day post-injury. Since this day he referred no complaints or functional limitations and no recurrences
or relapses were reported in the next three months.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Iliopsoas, pequeno trocânter, ressonância magnética, lesão, programa de reabilitação.
Iliopsoas, lesser trochanter, magnetic resonance imaging, injury, rehabilitation program.
Introdução
O músculo iliopsoas atua como
flexor da anca e flexor lateral do
tronco, contribuindo também para
a rotação lateral da anca. É um
músculo par, simétrico e poliarticu-
lar. 1 Tem origem na face anterior e
lateral da décima segunda vértebra
dorsal e nas apófises transversas das
Figura 1. O músculo iliopsoas
(https://foodgreenmood.com/2016/06/10/bellydance-y-
-mi-utero/psoas-iliaco/)
cinco vértebras lombares 1,2 , diri-
gindo-se depois infero-lateralmente,
passando profundamente na fossa
ilíaca por baixo do ligamento ingui-
nal, onde se funde com o músculo
ilíaco. O tendão comum passa sobre
a eminência pectínea, continuando-
-se anteriormente à arcada femoral
para se inserir no pequeno trocânter
do fémur (Figura 1). 1-4
As lesões de sobreuso represen-
tam a maioria das lesões ao nível
desta unidade miotendinosa e estão
associadas à sobrecarga repetitiva e
excessiva dos flexores da articulação
coxofemoral. O futebol é um exem-
plo paradigmático, na medida em
que o músculo iliopsoas é constan-
temente solicitado para a realização
de diversos gestos técnicos (ex. cor-
rida, remates, passes, etc). 1 O mem-
bro dominante é o mais afetado.
Apresentamos um caso clínico
de uma lesão miotendinosa parcial
do músculo iliopsoas num joga-
dor profissional de futebol. Por se
tratar de uma lesão pouco comum
pretende-se discutir a sua etiologia,
diagnóstico e tratamento, de forma a
contribuir para o aumento do conhe-
cimento acerca desta entidade.
Apresentação do caso
Sexo masculino, 19 anos, jogador
profissional de futebol, esquerdino,
durante a ativação geral na parte
inicial do treino sentiu uma dor
aguda na virilha. O jogador omitiu
tal facto à equipa médica e decidiu
continuar o treino, pois o descon-
forto era mínimo. No dia seguinte, a
dor era bem mais significativa e era
referida à região inguinal. No exame
clínico apresentava dor à palpação
localizada da face anterior do 1/3
proximal da coxa, imediatamente
distal ao ligamento inguinal. Apre-
sentava ainda dor à flexão resistida
da coxofemoral, não apresentando
dor ao alongamento passiva da
mesma. Não sabia dizer qual o
mecanismo da lesão e não havia
história de queixas prévias nesta
localização. A clínica era compatível
com uma dor inguinal relacionada
com o músculo iliopsoas, tendo sido
pedida uma ressonância magnética
(RM). Esta revelou “edema para-apo-
nevrótico do músculo psoasilíaco na
transição músculotendinosa, com
integridade da aponevrose intra-
muscular e do tendão de inserção no
pequeno trocânter, traduzindo pro-
cesso de rotura parcial com discreta
desorganização estrutural fibrilhar”
(Figura 2 e 3). Optámos pelo trata-
mento conservador, decidindo colo-
car o atleta a realizar o protocolo
PRICE e em seguida um programa
com incrementos progressivos da
carga, coadjuvado com técnicas
miofasciais e agentes físicos (ver
tabela 1). Após o desaparecimento
das queixas, e tendo cumprido
com os critérios pré-estabelecidos,
voltou a treinar sem limitações
com a equipa. Foi titular num jogo
oficial ao 13º dia pós-lesão. Desde
essa altura nunca mais sentiu dores
nem limitações funcionais. Até ao
momento (já passaram mais de três
meses) não foi reportada qualquer
recidiva.
Discussão
É difícil encontrar na literatura
artigos de revisão ou casos clínicos
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