Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 6

O que andamos a ler Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e comentados. É uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva. https://doi.org/10.23911/FMUP_jan_2019 Subclinical coronary artery disease in veteran athletes: is a new preparticipation methodology required? 1 Dr. Basil Ribeiro Medicina Desportiva, Clínica Médica da Foz. Porto. Resumo O texto agora publicado no Br J Sports Med, da autoria de vários médicos, mas onde o Dr. Hélder Dores é o primeiro autor, vem levan- tar uma questão muito pertinente, bastante discutida e, aparentemente, sem resposta no imediato: o con- teúdo do exame médico-desportivo para o atleta com mais de 40 anos de idade. Na Introdução os autores realçam a importância da prática do exercício físico regular na pers- petiva dos benefícios para a saúde cardiovascular, mas que poderá ser causador de eventos adversos, onde se inclui a morte súbita. Sendo a doença da artéria coronária (DAC) a causa mais frequente nestes casos, os autores questionam a abordagem médica tradicional a estes atletas. Apoiam-se em estudos para referi- rem a baixa sensibilidade da prova de esforço para detetar a DAC, pelo que apelam à inclusão de “outros marcadores para melhor estratifica- ção do risco”, entre os quais alguns 4 janeiro 2019 www.revdesportiva.pt parâmetros da angio TC cardíaca são promissores, a partir da qual se pode determinar o score de cálcio coroná- rio e realizar angiografia coronária não invasiva. Na hipótese para a rea- lização do estudo consideram que a avaliação cardiovascular tradicional tem pouca sensibilidade para dete- tar a DAC, a qual aumentará com a inclusão da TAC cardíaca. No estudo participaram 105 atletas com idade superior ou igual a 40 anos, denomi- nados como veteranos (103 cauca- sianos; 48±6 anos de idade, IMC = 24,5±2,5 kg.m -2 , pressão arterial sistólica = 125±11 e diastólica igual a 78±8 mmHg), assintomáticos, sem diabetes ou insuficiência renal, que praticavam exercício físico de modo regular, pelo menos 4horas/semana, consecutivamente há pelo menos 5 anos. Os respetivos fatores de risco foram considerados e posteriormente sujeitos a várias avaliações: estudo analítico, ECG de repouso, ecocardio- grama, prova de esforço e angio TC cardíaca. Os resultados revelaram que todos os atletas tinham risco cardiovascular baixo a intermédio, 5 tinham alterações no ECG (3 com o intervalo QTc>470 ms e 2 com inversão patológica da onda T), no ecocardiograma 2 tiveram alterações com significado clínico (válvula aór- tica bicúspide e prolaso da válvula mitral, sem significado funcional significativo). Os resultados da angio TC devem ser considerados preocu- pantes na perspetiva da DAC ser a principal causa de morte súbita no desporto em vetaranos: 42 atletas apresentaram placas coronárias, 36 com placas não obstrutivas e 6 com placas obstrutivas (estenose lumi- nais >50%). Verificaram ainda que havia uma elevada carga ateroescle- rótica coronária (critérios definidos no texto) em 27 (25,7%) atletas. Em relação à prova de esforço, máxima ou até à exaustão voluntária, houve 6 atletas com sinais eletrocardio- gráficos compatíveis com isquemia miocárdica, ao passo que 7 tiveram extrassístoles ventriculares frequen- tes, com taquicardia ventricular não mantida em 3 casos. Entretanto, apenas seis atletas dos 27 com carga aterosclerótica elevada tiveram alterações significativas na prova de esforço. Os resultados deste estudo prospetivo de investigação original parecem sugerir que a avaliação tradicional do atleta com mais de 40 anos de idade deixa escapar alguns atletas com risco acrescido para a ocorrência de eventos clínicos graves durante o exercício físico, incluindo morte súbita, e que a inclusão de parâmetros mais objetivos, como os resultantes da angio TC cardíaca podem aumentar a eficácia do exame médico. Será mesmo assim? Doravante far-se-á angio TC cardíaca aos atletas veteranos? E os custos? Será exequível? Haverá Centros para dar resposta aos milhares de veteranos? Para melhor perceber este estudo, comentá-lo e responder à questão dos autores desta inves- tigação, o Prof. Doutor João Freitas, cardiologista desportivo, elaborou seguinte texto. 1. Dores H., de Araújo Gonçalves P., Monje J., et al. Br J Sports Med Epub ahead of print. Doi:10.1136/bjsports-2018-099840 Comentário Prof. Doutor João Freitas Cardiologia desportiva. Clínica do Dragão, Porto. Recomenda-se exercício físico regular para reduzir a morbilidade e mortalidade cardiovascular (CV). O exercício físico está a ganhar popularidade entre pessoas de meia-idade e idosos. 1 No entanto, o