Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2019 | Page 26

reações alérgicas a medicamen- tos, exposição ambiental a tóxicos, radiculopatia de C7 e coartação da aorta. 7,13 A lesão iatrogénica do nervo torácico longo também está descrita como consequência de manipulações quiropráticas, uso de canadianas axilares, intervenções cirúrgicas e após anestesia geral. 7 A apresentação clínica da parali- sia do serrátil anterior caracteriza- -se tipicamente por dor no ombro, descrita como um queimor, com possível irradiação para o membro superior e para a escápula, com resolução espontânea, associada a sensação de fraqueza/fadiga do ombro e EA 4,7,9,13,24 , tendo sido esta a forma de apresentação no caso des- crito. No exame físico, a EA medial é geralmente evidente em repouso, com as margens medial e inferior próximas da coluna vertebral e deslocadas superiormente quando comparado com o lado oposto, com agravamento nos movimentos de elevação anterior e protração resistida da escápula. 4,7,9,24 O ritmo escapuloumeral está frequente- mente comprometido 25 , com rotação precoce da escápula, pelo que a elevação anterior e lateral do ombro acima dos 90° pode encontrar-se limitada. 7,24 Pode coexistir diminui- ção do trofismo muscular do serrátil anterior. 24 O diagnóstico diferencial de lesão do nervo torácico longo inclui discopatia cervical, plexite braquial (síndrome de Parsonage-Turner), para- lisia do trapézio, tendinopatia/rotura da coifa dos rotadores, capsulite adesiva, patologia degenerativa da articulação glenoumeral e acromio- clavicular, instabilidade glenoume- ral, entrapment do nervo supraes- capular, escoliose, osteocondroma escapular e patologia neurológica, como a distrofia fascioescapuloume- ral e síndrome de Guillain-Barré. 7,24 A paralisia do serrátil anterior é um diagnóstico essencialmente clínico e a ENMG representa o único exame complementar de diagnóstico definitivo, com capacidade de deter- minar o grau de desnervação. 7,24 Apesar da sua capacidade em deter- minar quais as estruturas atingidas, a extensão da lesão identificada inicialmente na EMG pode não ter valor preditivo relativamente à sua recuperação. 14 A RM neurográfica 24 janeiro 2019 www.revdesportiva.pt tem suscitado um maior interesse pela capacidade em identificar alterações anormais na morfologia e intensidade de sinal de nervos peri- féricos, bem como alterações secun- dárias compatíveis com desnervação do tecido muscular esquelético, tais como edema, atrofia muscular e infiltração gorda. 15 A radiografia simples cervical, torácica e ombro, apesar de raramente diagnósticas, devem ser realizadas para excluir outras hipóteses de diagnóstico. A tomografia computadorizada e a RM podem ter interesse para exclusão de patologia discal e radiculopatia, lesões relacionadas com neurofibro- matose e lesões tumorais. 7,24 A paralisia isolada do serrátil anterior apresenta uma resposta favorável ao tratamento conser- vador, com resolução funcional entre 1-24 meses, embora os casos traumáticos estejam associados a um pior prognóstico. 4,7,10,24 Como tal, é consenso geral a instituição de tratamento conservador durante 6-24 meses, atendendo à resolução espontânea da maior parte dos casos descritos durante este período. 4,7,13,24 Em caso de insucesso após 12-24 meses de tratamento conservador, e ausência de melhoria substancial demonstrada na ENMG, deve ser considerada a cirurgia de trans- posição dinâmica de músculos, nomeadamente a cabeça esternal do peitoral maior para o ângulo inferior da escápula 7,9,24 Em resumo, a EA é um distúrbio raro que condiciona limitação fun- cional significativa do membro supe- rior e pode resultar do traumatismo direto em contexto de atividade desportiva, como é exemplo o futsal. O tratamento fisiátrico é conside- rado de 1ª linha, habitualmente com recuperação clínica e funcional num período previsto de 6-24 meses. O caso descrito pretende mostrar que uma lesão do nervo torácico longo deve ser incluída no diagnóstico diferencial de EA, uma vez que o reconhecimento e intervenção tera- pêutica precoces têm implicações positivas no prognóstico e recupera- ção funcional. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse Endereço para correspondência: Tiago Rodrigues Lopes Serviço de Medicina Física e de Reabilita- ção – Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro; 5000-508 Vila Real, Portugal. [email protected] Bibliografia 1. Meininger AK, Figuerres BF, Goldberg BA. Scapular winging: an update. J Am Acad Orthop Surg. 2011; 19(8):453-62. 2. Nawa S. Scapular Winging Secondary to Apparent Long Thoracic Nerve Palsy in a Young Female Swimmer. J Brachial Plex Peripher Nerv Inj. 2015; 10(1):e57-e61. 3. Winslow J. 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