Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2018 | Page 30
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Figura 5. Imagens de artroscopia: a) sinoviectomia ântero-lateral;
b) avaliação de instabilidade medial; c) identificação de lesão
osteocondral do astrágalo e realização de microperfurações; d)
reinserção tibial do ligamento deltoide com âncora.
D
sinais de complicações pós-operató-
rias, nomeadamente associadas às
incisões cirúrgicas, infeção ou lesão
nervosa.
Discussão
Figura 6. Rx pós-operatório, com ausência
de talat tilt no stress em varo e congruên-
cia articular.
com canadianas. O doente integrou
programa de reabilitação funcio-
nal abrangente com o objetivo de
controlo das queixas álgicas, ganho
de mobilidade e força muscular, bem
como realização de treino proprio-
cetivo e de coordenação. Após um
período de aproximadamente quatro
meses retomou as atividades de vida
diária sem limitações e iniciou gestos
técnicos inerentes à sua prática des-
portiva. Progressivamente integrou
atividades sem carga, como natação
e bicicleta, sem queixas. Iniciou aos
seis meses desportos de contacto,
sem sensação subjetiva de instabili-
dade, com dor residual ântero-lateral.
A análise do score AOFAS e EVA
foi realizada um ano após a cirurgia,
tendo demonstrado uma evolução
favorável face ao pré-operatório,
com progressão de 55 para 84 e de 7
para 4, respetivamente, o que indica
uma melhoria em relação à disfun-
ção e dor. Apesar da persistência de
dor ântero-lateral do tornozelo, é de
salientar a ausência de dor medial
no pós-operatório. A amplitude
articular evoluiu favoravelmente no
plano sagital, com progressão de 5°
para 10° de dorsiflexão, mantendo
os mesmos 35° de flexão plantar. Os
testes de instabilidade, nomeada-
mente gaveta anterior e talar tilt de
stress em varo/valgo apresentavam-
-se negativos. Não se identificaram
28 janeiro 2018 www.revdesportiva.pt
O presente caso clínico vai ao encon-
tro dos resultados satisfatórios
presentes na literatura, para os
procedimentos de reparação medial e
lateral no tratamento da instabilidade
crónica combinada do tornozelo. 9,15,16
Yasuda et al. 9 descrevem o regresso
à atividade desportiva de atletas
profissionais e amadores em quatro
meses, após reconstrução cirúrgica
dos dois complexos ligamentares.
Mais ainda, sugere que a instabili-
dade lateral do tornozelo leva a uma
sobrecarga medial e conflito arti-
cular, podendo estar na origem de
instabilidade medial.
Da mesma forma, Buchhorn et al.
concluíram no seu trabalho que a
reconstrução lateral e medial do
tornozelo na instabilidade rotacional
crónica é um procedimento seguro,
com bons resultados clínicos e de
satisfação para o doente, sendo ele
atleta ou não. Chama ainda a aten-
ção para a importância da artrosco-
pia no diagnóstico e tratamento de
lesões associadas, nomeadamente
de conflito ósseo e de partes moles,
como fatores importantes para o
resultado favorável da reconstrução.
No que refere às lesões condrais,
Okuda et al. 17 defendem que a sua
abordagem não é fundamental para
o bom resultado clínico.
Os exames auxiliares de diagnós-
tico, nomeadamente a RMN, são de
elevado valor na avaliação pré-
-operatória, no entanto devem ser
interpretados com precaução. No
presente caso, a RMN não descrevia
ruturas ligamentares que acabaram
por se confirmar.
A artroscopia do tornozelo
revela-se um método essen-
cial para a confirmação do
diagnóstico de instabilidade.
Do mesmo modo, este proce-
dimento revela-se o método
de eleição na identificação e
tratamento de lesões asso-
ciadas, nomeadamente as
lesões osteocondrais, conflito
ósseo ou de partes moles e
lesão dos tendões peroneais.
O score AOFAS e a EVA mostraram
uma melhoria significativa da dor
e disfunção face ao pré-operatório.
Uma possível explicação para a limi-
tação em dorsiflexão pode ser a posi-
ção anterior do astrágalo em relação
à superfície articular tibioperoneal,
levando a um contacto ósseo precoce
e uma limitação mecânica. A estabili-
zação ligamentar pode reposicionar o
astrágalo para uma posição anató-
mica com normal congruência arti-
cular. 16 A melhoria da amplitude em
dorsiflexão verifica-se neste estudo
após o proce dimento cirúrgico.
A ausência de dor medial no pós-
-operatório parece dar suporte ao
procedimento de estabilização reali-
zado. É difícil identificar a(s) causa(s)
de dor persistente ântero-lateral,
no entanto, a lesão osteocondral
associada é um factor importante
de mau prognóstico e talvez seja a
principal causa.
Apesar da escassa literatura sobre o
tema, os autores deste trabalho, pre-
conizam que a reparação isolada dos
ligamentos laterais do tornozelo na
instabilidade rotacional não seja sufi-
ciente, sobretudo em atletas. As con-
clusões e resultados obtidos devem
ser interpretadas com precaução, uma
vez que apresentam algumas limita-
ções. O tempo de seguimento relativa-
mente curto de um ano impossibilita
a realização de uma avaliação a longo
prazo. Por outro lado, a presença
de lesão osteocondral pode ser um
fator de confundimento e de menor
precisão dos resultados. Não foram
realizadas avaliações intermédias que
permitissem demonstrar a evolução
faseada ao longo do tempo total de
seguimento.
Conclusão
A reconstrução ligamentar medial
e lateral com âncora é um método