Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2018 | Page 17
de Reabilitação, nomeadamente na
reabilitação das fraturas.
Os números e o impacto funcional
Os números e as complicações da osteoporose
Dra. Ana Zão, Prof Doutor Pedro
Cantista
Serviço de Medicina Física e de
Reabilitação. Centro Hospitalar
do Porto (Hospital de Santo
António), Porto.
Introdução
A osteoporose constitui um pro-
blema de saúde pública devastador,
não só pela sua elevada prevalência
a nível mundial (estima-se que afete
200 milhões de pessoas), mas porque
se associa a um aumento da taxa de
mortalidade, cursando frequente-
mente com complicações diversas
que condicionam importantes limi-
tações funcionais.
Definição, mudança de paradigma
Em 1994, a osteoporose foi definida
por um grupo de trabalho da World
Health Organization como sendo uma
“doença sistémica do esqueleto
com diminuição da massa óssea e
deterioração da microarquitectura
do tecido ósseo, causando aumento
da fragilidade óssea e consequente
risco de fractura”. O melhor conheci-
mento epidemiológico acerca desta
entidade clínica tornou claro que o
risco de fraturas osteoporóticas esta-
ria relacionado com fatores indepen-
dentes de massa óssea, o que levou
a National Institute of Health a esta-
belecer no ano 2000 um consenso
dedicado à osteoporose, no qual
restruturou a sua definição, cen-
trando-a num conceito abrangente:
a resistência óssea. Assim, desde
então a osteoporose é definida como
uma “doença óssea caraterizada por
diminuição da resistência do osso, a
qual predispõe ao aumento do risco
de fratura”.
Complicações médicas
A relevância clínica da osteoporose
deriva não propriamente do aumento
progressivo e “silencioso” do risco
de fratura, mas antes da sua efetiva
ocorrência. Nesta circunstância, a
dor assume-se desde logo como uma
consequência clínica imediata.
As fraturas ao nível das ancas e das
vértebras estão entre as principais
localizações de fraturas osteoporó-
ticas, pelo que facilmente se com-
preende que muitos destes doentes
acabem por desenvolver deformida-
des, nomeadamente ao nível do ráquis
(hipercifose), condicionando desvio
anterior do centro de gravidade, défice
de equilíbrio e consequente aumento
do risco de queda, o que potencia a
ocorrência de novas fraturas. Sabe-se
até que mais de 90% das fraturas da
anca e 50% das fraturas vertebrais são
provocadas por quedas. As limita-
ções funcionais e a diminuição da
qualidade de vida são consequências
frequentes, associando-se muitas
vezes a diminuição da autoestima,
distorção da imagem corporal, depres-
são, alterações do sono e dependência
de fármacos, nomeadamente para o
controlo da dor.
As complicações inerentes à
osteoporose não são estanques às
estruturas ósseas: as deformidades ao
nível do ráquis poderão comprome-
ter não só o equilíbrio, mas também
as funções pulmonar e digestiva,
condicionar desequilíbrios muscu-
lares, contratura e dor miofascial,
potenciando a imobilização (pela
cinesiofobia) e o sedentarismo. O
medo de queda pode constituir uma
importante limitação à realização de
atividades e à participação do doente
nos seus diferentes contextos.
Existe uma relação estreita entre
osteoporose e sarcopenia, pelo que
se torna claro e relevante o papel
do exercício físico. O foco de atua-
ção médica deverá abarcar medi-
das preventivas e terapêuticas que
incluam programas educacionais,
intervenções nutricionais e farma-
cológicas, intervenção no ambiente
circundante (essencialmente no que
se refere a prevenção de quedas),
exercício físico e outras modalidades
de intervenção de Medicina Física e
Os “números” da Osteoporose
são dramáticos e revelam o quão
prevalente e devastadora é esta
entidade clínica. Os doentes com
osteoporose apresentam maior
morbilidade, maior incapacidade
e um risco aumentado de morte
de 12% quando comparados com
indivíduos com semelhante perfil
biodemográfico, mas sem osteopo-
rose. É responsável por mais de 8,9
milhões de fraturas anualmente
a nível mundial, o que equivale à
ocorrência de uma fratura osteopo-
rótica a cada 3 segundos. Uma em
cada três mulheres e um em cada
cinco homens com idade superior
a 50 anos irá desenvolver fraturas
osteoporóticas. Segundo a Internatio-
nal Osteoporosis Foundation, estima-se
que a incidência de fraturas da anca
quadruplique até 2050. A sobrevida
após ocorrência de fratura osteopo-
ró tica está diminuída comparativa-
mente à sobrevida esperada para a
população sem fraturas associadas.
Em 2010, verificaram-se 43.000 mortes
relacionadas com fraturas osteopo-
róticas na Europa, sobretudo asso-
ciadas a fraturas da anca (50%) e
fraturas vertebrais (28%), pelo que o
risco de morte por fratura osteopo-
rótica não é desprezível. Os estudos
demonstram que, um ano após o
desenvolvimento de uma fratura da
anca, 80% dos doentes apresenta
alguma limitação na realização das
atividades da vida diária, 40% não
é capaz de realizar marcha autono-
mamente, 30% apresenta limitação
funcional significativa e permanente
e 20% dos doentes acaba por falecer.
A epidemiologia evidenciou a idade
como o principal fator de risco para
a ocorrência de fraturas osteoporó-
ticas. O incremento da longevidade,
paralelamente ao incremento do
sedentarismo e deterioração dos
hábitos alimentares são fatores que
explicam o aumento da prevalência
da osteoporose, sobretudo nas popu-
lações das sociedades industrializa-
das. A maior incidência de osteopo-
rose ocorre sobretudo a partir dos
60-65 anos. A inevitável diminuição
de massa óssea inicia-se logo a partir
dos 30-35 anos, evidenciando uma
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