Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2018 | Page 14
Rev. Medicina Desportiva informa, 2018, 9 (1), pp. 12–14
Síndrome Doloroso Regional
Complexo e Medicina
Desportiva
Dr. Ricardo Aido 1,2,6,7 , Dr. Hugo Pinto 1,3 , Dr. Diogo Dias 4,6 , Prof. Carlos Magalhães 1,6,8
Especialista em medicina desportiva; 2 Especialista em ortopedia. 3 Competência em Acupunctura
OM Portuguesa e British Medical Acupuncture Society; 4 Interno de formação específica em medicina
desportiva; 5 Especialista em cirurgia geral. 6 Departamento Médico Federação Portuguesa de Voleibol;
7
Colaborador Federação Académica Desporto Universitário e da Confederação do Desporto de Portugal;
8
Comité Médico da International Sports University Federation.
surge habitualmente após trauma
local (sem lesão nervosa orgânica
associada), mas é desproporcional
ao evento desencadeante. 4-5
2. O tipo II (menos frequente) que
apresenta um quadro clínico seme-
lhante ao tipo I, mas com existên-
cia de lesão nervosa comprovada.
Epidemiologia
1
RESUMO / ABSTRACT
Patologia controversa, e que ainda carece de explicações significativas, a síndrome
dolorosa regional complexa continua a merecer permanente discussão na comunidade
médica. O quadro clínico é desproporcional ao traumatismo desencadeador da síndrome e
as sequelas da mesma são habitualmente altamente incapacitantes. O diagnóstico, e con-
sequente tratamento precoce, permanecem como chave fundamental para a obtenção de
bons resultados clínicos pelo que, mesmo constituindo patologia muito pouco frequente
em contexto desportivo e em atletas de alta competição, importa que os clínicos tenham
este diagnóstico sempre presente.
Controversial pathology, that still lacks significant explanations, the complex regional pain
syndrome still undergoes a permanent discution in the medical community. The clinical picture
is disproportionate to the triggering trauma of the syndrome and its sequelae are usually highly
disabling. The correct diagnosis and consequent treatment should be as early as possible which is
fundamental to obtain good clinical results. Therefore, even though it is a very uncommon condi-
tion in sports and in high-level athletes, it is important that sports physicians have this diagnosis
always in mind.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Síndrome doloroso regional complexo, medicina desportiva, atletas alta competição
Complex regional pain syndrome, sports medicine, high-level athletes
A experiência clínica e as estatísti-
cas das últimas duas décadas têm
demonstrado um aumento signifi-
cativo no diagnóstico de SDRC. 6 Na
maioria dos casos existe história de
traumatismo prévio, agressão cirúr-
gica, imobilizações segmentares (taxa
de incidência de 5% após fraturas ou
cirurgias das extremidades 6-8 ), estando
igualmente descritos casos clínicos
de SDRC tipo I após traumatismos
minor, com processos inflamatórios
locais (cutâneos ou articulares), ou
após procedimentos minimamente
invasivos (infiltração de tecidos moles
Tabela 2 – Critérios de Budapeste 3
1. D
or contínua (ou outras alterações sen-
sitivas: hiperestesia, alodinia) despro-
porcional ao evento desencadeante.
2. D
evem ter pelo menos um sintoma em
três das quatro seguintes categorias:
Introdução
A Síndrome Dolorosa Regional Com-
plexa (SDRC) constitui uma entidade
clínica de fisiopatologia complexa,
de diagnóstico e tratamento habi-
tualmente difíceis. Afeta primaria-
mente as extremidades, surgindo
após traumatismo local, embora o
mecanismo causal não esteja com-
pletamente esclarecido. 1-4
A complexidade desta entidade
clínica é de tal ordem que ao longo
dos últimos dois séculos foram
várias as suas designações, desde
distrofia simpática reflexa, distúrbio
vasomotor pós-traumático, atrofia
óssea de Sudeck, algoneurodistro-
fia, entre outras. Apenas em 1994,
e de forma a unificar as múltiplas
situações clínicas com fisiopatologia
comum, a IASP (International Asso-
ciation for Study of Pain), através dos
Critérios de Orlando, introduziu o
termo atualmente utilizado – SDRC
(tabela 1). 2 A baixa especificidade
dos critérios de Orlando fez