Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2018 | Page 12

É importante distinguir a anca de ressalto das bursites e tendinites isoladas (sem ressalto), na medida em que é o ressalto que causa as situações inflamatórias, devendo ser este o nosso alvo terapêutico. A história de início das queixas álgicas é variável, podendo ser insidiosa por ressaltos repetidos ou após trauma- tismo agudo. No ressalto lateral e posterior a localização da dor é tipi- camente no grande trocânter e no ísquion, respetivamente. No ressalto anterior a dor é tipicamente pro- funda na região inguinal, mas pode ocorrer no flanco e na articulação sacroilíaca, refletindo tendinite do psoasilíaco. A dor anterior profunda do ressalto anterior pode ser difícil de distinguir clinicamente da dor de patologia intra-articular. 1,9 Diagnóstico O diagnóstico é predominante- mente clínico através dos sintomas e da reprodução do ressalto nos movimentos de flexão, extensão e rotações lateral e medial da anca, sendo que tipicamente os próprios pacientes conseguem reproduzir o ressalto. Tipicamente o ressalto lateral é visível e facilmente repro- duzido pelo paciente em posição ortostática ao fazer rotação do membro e inclinação lateral da bacia para o lado afetado. O ressalto pode ser impedido ao aplicarmos força em direção posterior sobre a banda iliotibial aquando da flexão da anca, impedindo a sua trans- lação para posição anterior em relação ao grande trocânter, o que A confirma o diagnóstico. Por sua vez, o teste de Ober (em decúbito lateral faz-se abdução e flexão da anca com joelho em flexão e passa-se a adução e extensão, procurando-se obter ressalto da banda iliotibial sobre o grande trocânter ou desper- tar dor) permite avaliar a tensão da banda iliotibial, que é um fator de risco para ressalto lateral. 9,12 A dor na região inguinal quando é feita flexão da anca contra resistê ncia em abdução e rotação lateral sugere tendinite do psoasilíaco e deve ser pesquisada na suspeita de ressalto anterior. 1,6 A injeção de anestésico local na bolsa sinovial do psoasilíaco ou intratendinosa pode ajudar a identificar a estrutura dolorosa e a fazer o diagnóstico ao provocar alí- vio álgico. 9,10,28 A ecografia dinâmica pode ter interesse e detetar a trans- lação abrupta da banda iliotibial ou do psoasilíaco durante os movimen- tos da anca, podendo ainda ajudar no diagnóstico de espessamento da fáscia, bursites e coleções de líquido peritendinosas. 14,18,29,30 A radiografia da anca pode ser útil para identificar fragmentos ósseos e condromatose sinovial intra-articular, enquanto a ressonância magnética nuclear, com ou sem artrografia, pode identificar situações de tendinite do psoasilíaco e bursite trocantérica, bem como excluir patologia intra-articular da anca, tais como lesões osteocondrais e roturas do labrum acetabular. A tomografia computorizada pode aju- dar a caracterizar morfologicamente as proeminências ósseas envolvidas no ressalto. Por último, a bursografia ou tenografia do psoasilíaco per- mite identificar de forma dinâmica sob fluoroscopia o tendão e o seu ressalto de acordo com movimentos da anca. 1,9,10,12 Tratamento Muitas vezes o ressalto extra-articu- lar da anca é isolado e indolor, não requerendo qualquer tratamento específico. No entanto, quando o ressalto provoca sintomas, estão indicados a modificação da ativi- dade com recomendação de evitar os movimentos que provoquem o ressalto e o tratamento sintomático anti-inflamatório e analgésico. Se a dor é persistente, está recomen- dada fisioterapia com exercícios de alongamento e relaxamento da banda iliotibial e do psoasilíaco (Figura 2), com o objetivo de diminuir a tensão destas estruturas e impe- dir o seu conflito com as respetivas proeminências ósseas, sendo este o tratamento mais eficaz para esta patologia. Se este tratamento conser- vador convencional não tiver sucesso, estão indicadas como passo seguinte as infiltrações com corticoides intra- -tendinosas ou nas bolsas sinoviais guiadas por ecografia, podendo ser combinadas com fisioterapia. 2,9,10,31 Nos poucos casos em que a sinto- matologia é persistente após 6 a 12 meses de tratamento conservador adequado está indicado o tratamento cirúrgico seguido de reabilitação controlada. 12 Para o ressalto lateral está indicada bursectomia trocanté- rica acompanhada de várias possí- veis intervenções que têm todas em comum o objetivo de aliviar a tensão da banda iliotibial. São exemplos a plastia em Z de alongamento da banda iliotibial (procedimento mais frequente e ilustrado na Figura 3), resseção da sua metade posterior, resseção elítica da sua porção que contacta com o grande trocânter, separação do grande glúteo da banda iliotibial, incisão longitudinal ou B Figura 2 – Modelo de exercícios de alongamento da banda iliotibial (A) e do psoasilíaco (B). 10 janeiro 2018 www.revdesportiva.pt Figura 3 – Alongamento em Z da banda iliotibial.