Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2016 | Page 26
Figura 2 – Efeito de pinça, descrito por
Penning L., mecanismo de compressão
temporária da medula espinhal entre os
corpos e as lâminas vertebrais4,5
após traumatismo, que podem ser
motores, ou sensitivos ou sensitivo-motores e atingir os quatro membros, apenas os membros superiores
ou os membros superior e inferior
homolaterais. O padrão mais frequente, encontrado em aproximadamente 80% dos casos, é a diminuição
(tetraparésia) ou mesmo ausência
da força muscular (tetraplegia) e
défices sensitivos atingindo os quatro membros2. Os sintomas sensitivos mais frequentes são défices de
sensibilidade, dormência, parestesias
e dor neuropática8. Os sintomas são
transitórios e têm regressão espontânea, mais frequentemente com
duração de 15 a 30 minutos, mas
podem durar até 48 horas. A reversão
clínica é completa, sem dor e com
mobilidades completas da coluna
cervical, sendo que após a recuperação o exame neurológico é normal,
sem sinais de lesões residuais2.
Figura 3 – Razão canal medular-corpo
vertebral de Torg para avaliação de estenose medular, que corresponde à distância entre o ponto intermédio da cortical
posterior do corpo vertebral e o ponto
mais próximo da linha espino-laminar
correspondente a dividir pela largura
ântero-posterior do corpo vertebral13
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Diagnóstico
Tratamento
Por definição, a concussão medular
não tem lesões estruturais, como tal
os exames de imagem são normais
e o diagnóstico é clínico. Os exames
de imagem são obrigatórios para
despiste de causa estrutural da lesão
medular, sendo utilizados a radiografia, a tomografia computorizada e a
ressonância magnética nuclear da
coluna vertebral2. As lesões estruturais medulares a procurar após
trauma são sobretudo a contusão
medular, a estenose medular focal, a
intrusão no canal medular, a hérnia
discal, a fratura vertebral e a instabilidade ligamentar2.
O achado radiológico mais encontrado nos desportistas que têm um
episódio de neuropráxia medular é
a estenose medular cervical2,8-11. A
associação entre estenose medular
cervical e neuropráxia medular está
bem definida nos vários trabalhos
de Torg JS. e Pavlov H., tendo estes
autores verificado que 95% dos casos
de concussão medular apresentam
estenose medular em um ou mais
níveis6,8,10-16.
A estenose medular cervical é
definida como um segmento cervical com uma ou mais vértebras,
onde a razão canal-corpo vertebral
é igual ou inferior a 0,8 (Figura 3).
Pode ser congénita ou adquirida e
assintomática, sendo que a mais frequentemente verificada em atletas
é a forma adquirida secundária a
osteofitose degenerativa, provavelmente devido ao estresse e aos contactos repetidos durante a atividade
desportiva11,13,17–19. O diagnóstico de
estenose medular cervical, além da
análise da radiografia, deve envolver
técnicas de imagem, como a ressonância magnética nuclear, a tomografia computorizada e a mielografia
de modo a se identificar com precisão a verdadeira estenose medular20.
A estenose medular está associada
a risco mais elevado de neuropráxia
medular devido ao menor espaço
para acomodar deformações da
medula espinhal após traumatismos
de compressão ou conflito temporário. O envolvimento neurológico
ocorre quando se excede o limite de
tolerância e se interrompe o equilíbrio fisiológico dos potenciais de
ação axonais, havendo disfunção
medular2,21,22.
A literatura sobre o tratamento da
neuropráxia medular é escassa23.
Esta condição é por definição
transitória, não havendo sintomas
residuais, pelo que a abordagem
inicial, além de reconhecer os sinais
e sintomas, passa por tratamento de
suporte e por prevenir agravamento
das lesões neurológicas7,24. Atualmente não existe evidência científica para tratamento corretivo da
estenose medular em desportistas,
apesar da laminoplastia cervical ter
sido proposta2. Em indivíduos com
lesões cervicais focais ou instabilidade ligamentar, a intervenção
cirúrgica é uma opção7.
O regresso à prática desportiva,
sobretudo em desportos de contacto,
é um tema controverso e envolve
muitas vezes múltiplas pressões
extrínsecas sobre o médico. No
entanto, este apenas deve acontecer
se estiverem reunidas condições
para um regresso em segurança2.
Cabe ao médico identificar os atletas
que após lesão medular transitória
estão em risco de futuras lesões
medulares e assim descontinuar a
participação em desportos de risco25.
A neurologia desportiva é altamente
individualizada e devem ser considerados múltiplos fatores antes
do regresso do atleta ao desporto,
nomeadamente o mecanismo e o
tipo de lesão, o tipo de sintomas, a
história prévia de sintomas ou lesões
neurológicas, os fatores anatómicos
que poderão favorecer lesões, tais
como estenose medular, hérnia discal ou fratura, e as características da
prática desportiva e da recuperação
do atleta2,25,26. A literatura é consensual e define os parâmetros obrigatórios para o regresso ao desporto
de contacto ou colisão do atleta que
sofreu lesão medular. No entanto,
cada caso clínico deve ser analisado
como individual e único1:
• estar assintomático
• ter força muscular
• ter arco de mobilidade ativa completo.
Existe também controvérsia sobre
o risco de lesão medular permanente no atleta com um episódio
prévio de concussão medular, mas
não existe atualmente evidência
que um único episódio de disfunção