Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2016 | Page 22
Responde quem sabe
Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (1), pp. 20–21
A síndrome de Wolf-Parkinson
White
Dr. João José Primo
Cardiologista e eletrofisiologista. Centro Hospitalar de VN Gaia-Espinho, EPE – V N Gaia, Hospital da
Arrábida, Centro Hospitalar do Alto Ave, Centro Hospital Tondela-Viseu
(A-V), que têm a capacidade de
condução anterógrada, resultando em alterações típicas no
eletrocardiograma(Fig. 1):
• intervalo PR curto,
• presença de onda delta no início
do complexo QRS e
• alargamento do QRS1.
… mas alguns são intermitentes
e o ECG poderá não mostrar a
alteração…
O que é esta entidade clínica?
Qual a sua incidência?
A prevalência da síndrome de
Wolf-Parkinson-White (WPW)
na população geral é estimada
em 0,1 a 0,2 %. Aproximadamente
50% dos portadores de WPW são
assintomáticos, sendo que nestes
o padrão é um achado encontrado
num eletrocardiograma (ECG) de
rotina. Trata-se de uma anomalia
da condução elétrica, diagnosticável
exclusivamente por métodos eletrocardiográficos.
Na mecânica cardíaca a contração
de ambas as aurículas precede em
cerca de 200ms a contração ventricular, o que é conseguido através de
um atraso numa estrutura parecida
com um condensador elétrico, o nó
auriculoventricular, que retém o estímulo antes da propagação e consequente contração dos ventrículos. No
caso dos indivíduos com WPW, existe
uma ligação elétrica direta entre as
aurículas e os ventrículos, pelo que
os estímulos auriculares não são
filtrados, existindo a possibilidade de
reentrada ou de condução acelerada.
A via acessória pode ter uma
condução pouco eficaz e nestas
circunstâncias pode conduzir umas
vezes e outras não. Estes WPW intermitentes não têm risco de morte
súbita, não sendo necessário tomar
medidas. Não confundir, contudo,
este fenómeno com o desaparecimento da condução na via acessória
durante uma prova de esforço, pois
como a condução normal está mais
rápida nessas circunstâncias a via
acessória pode estar simplesmente
encoberta e manter-se eficiente na
condução.
Está relacionada com a morte
súbita no desporto? Se sim, o que
a causa?
Sim, estima-se que o risco anual
de morte súbita em pacientes com
WPW seja 0,02-0,05% por ano, o
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… Mas todos WPW são perigosos?
Como se distinguem?
Não, nem todos os WPW são perigosos e, como já referi, os exames descritos no parágrafo anterior podem
definir condução intermitente e
como tal baixo risco. Se a via tem
condução permanente é necessário
realizar um estudo eletrofisiológico
para estudo das propriedades elétricas da via acessória. Vulgarmente
considera-se uma via acessória com
período refratário, ou seja a altura
em que desliga, inferior a 250ms
como sendo de alto risco.
É necessário um
atleta fazer a
ablação? Se sim,
quais os critérios?
E como se faz o diagnóstico?
Os pacientes com padrão eletrocardiográfico de WPW possuem vias
acessórias auriculoventriculares
que representa entre 2% a 4% das
mortes súbitas na população geral2.
O mecanismo da morte súbita é a
fibrilação ventricular, desencadeada
pela condução dos impulsos rápidos
da fibrilação auricular (300 a 500
ciclos por minuto) pela via acessória
até ao ventrículo esquerdo. Durante
o exercício físico, especialmente se
muito intenso, como acontece numa
competição, a condução elétrica
faz-se de uma forma mais rápida
por influência da “adrenalina”. Se
nestas ocasiões acontecer desorganização do estímulo auricular, fibrilação auricular, a via acessória pode
funcionar como uma ligação direta.
Ora o ventrículo esquerdo não tem
capacidade para lidar com tantos
estímulos ao mesmo tempo, ficando
desorganizado, provocando fibrilação ventricular e morte súbita.
A estratificação do risco é muito
importante nestes indivíduos, até
porque 40 a 50% dos pacientes com
WPW que tiveram morte súbita
estavam assintomáticos antes do
evento. Os pacientes assintomáticos
devem ser submetidos a prova de
esforço, ecocardiograma (para identificar doença cardíaca estrutural) e
Holter.
Fig. 1
A minha opinião é
que se um atleta
tem um WPW
não intermitente,
mesmo sendo