Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2013 | Page 7

iniciou queixas de dor na região lombar e dor na região glútea esquerda , sem episódio traumático prévio , que foi agravando com o treino diário . Recentemente teve história de paragem por lesão muscular , havendo retomado os treinos diários sem limitações cerca de 3 semanas antes do início das queixas .
Inicialmente as queixas surgiam quando realizava apoio com a marcha ou corrida , no momento de impacto com o solo . A dor foi agravando , passando a ocorrer fora das atividades físicas diárias , e era agravada com os movimentos de flexão da coxa , como descer escadas ou sentar . Como antecedentes pessoais relevantes há a referir uma história de anterolistése de L5 sobre S1 com lise ístmica . Ao exame objetivo era possível determinar , com a palpação da região glútea esquerda , um ponto doloroso bem localizado . A dor não era reproduzida pelas manobras de mobilização da anca ou de força muscular contra resistência . O sinal de Laségue era negativo . A manobra de FABER era positiva .
Foi submetido a um período de 5 dias de descanso e analgesia , findo o qual tentou retomar os treinos sem sucesso . Realizou uma telerradiografia da coluna lombar e bacia que não revelaram alterações . A tomografia computorizada revelou anterolistése de L5 sobre S1 com lise ístmica sem importante componente de compressão .
A cintigrafia óssea revelou marcado aumento de atividade nas sacroilíacas , de muito maior intensidade à esquerda , nomeadamente na vertente inferior , não podendo assim ser excluída lesão do foro traumático ( imagens 1 e 2 ). A RMN revelou fratura do sacro ( imagens 3 , 4 , 5 e 6 ). O doente
foi submetido a tratamento conservador com descarga por um período de 3 meses , analgesia e ácido zolendrónico . A manutenção da componente cardiovascular foi conseguida através de natação e caminhada na piscina que iniciou logo que os sintomas permitiram ( após 3 semanas de repouso ). Com o passar das semanas as queixas álgicas foram diminuindo havendo recuperação funcional completa ao fim de 3 meses .
Discussão
As fraturas de fadiga do sacro são pouco frequentes entre as fraturas por fadiga e ocorrem principalmente em atividades com impacto repetitivo . Em atletas as fraturas de stress são mais comuns nos membros inferiores , sendo muito rara a sua ocorrência no sacro . A maioria dos casos descritos de fraturas de stress do sacro em atletas ocorre em atletas de corrida , principalmente do sexo feminino que praticam corrida de longa distância 10 , 11 , 12 , embora também existam casos descritos em jogadores de voleibol 13 , de basquetebol 14 e de hóquei 15 . Até à data não foram encontrados casos publicados
Figuras 3 e 4 – Corte frontal de RMN em T1 onde é possível observar traço de fratura no sacro esquerdo .
Figuras 1 e 2 – Cintigrafia óssea com aumento de atividade ao nível das sacro-ilíacas , mais intenso à esquerda , nomeadamente na sua vertente inferior .
em jogadores de futebol profissional . No caso descrito , os autores descrevem uma fratura de stress que ocorreu num futebolista profissional após uma paragem por lesão muscular . As fraturas por fadiga surgem quando um osso é submetido a uma força torque para a qual não está capaz de suportar . O osso está em constante processo de remodelação de acordo com as solicitações a que está sujeito . A adaptação muscular é mais rápida que a óssea , podendo neste caso ter ocorrido uma solicitação muscular sobre um osso que estava em “ remodelação ”, sem estar ainda preparado para as exigências musculares .
As principais queixas de uma fratura por fadiga do sacro são de dor mecânica na região lombar e glútea sem alterações com o exame objetivo , exceto dor com a palpação da área lesada . Assim , para o diagnóstico é necessário um elevado índice de suspeição , sendo a RMN o exame de eleição . O diagnóstico diferencial desta patologia inclui lesões músculo-tendinosas , patologia da coluna lombosagrada e da articulação sacro-ilíaca , bem como da articulação coxofemoral .
Existe boa resposta com o tratamento conservador e o sinal na RMN do sacro é normal cerca de 5 a 6 meses após a fratura 16 . O treino deve ser livre de dor , devendo o doente estar livre de queixas nas atividades diárias 2 semanas antes de retomar os treinos . As ondas de choque e a eletroestimulação são modalidades que têm sido usadas para o tratamento de fraturas . As ondas de choque parecem diminuir o tempo de consolidação das fraturas diafisárias da tíbia e distais do rádio , mas não necessariamente nas fraturas de stress 17 , 18 . A eletroestimulação parece ajudar nos atrasos de consolidação
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