Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2013 | Page 18

Utilização de AINEs no desporto
Os AINEs são amplamente utilizados com a finalidade de redução das manifestações excessivas do processo inflamatório decorrente da lesão 1 . Corrigan & Kaslauskas ( 2003 ) analisaram a incidência do uso referido de medicamentos e de suplementos alimentares nos atletas participantes dos Jogos Olímpicos de Sidney ( 2000 ). Em 25,6 % das ações de controlo de dopagem foi indicado o uso de AINEs pelos atletas em várias modalidades . Constatou-se ainda o uso de doses inadequadas pelos atletas e o do uso de dois ou mais AINEs diferentes pelo mesmo atleta . Foi aventada a hipótese que tal perfil de consumo poderia estar associado as seguintes situações : lesões decorrentes por estímulo específico ( aspetos quantitativos e qualitativos de treino e competição ) do desporto ; insuficiência do período necessário para a recuperação da lesão com uso repetitivo da área anatómica lesada ; condições biomecânicas impróprias ; atletas com lesões de menor extensão que não alteram a sua carga de trabalho e fazem uso continuado ( crónico ) do fármaco 1 .
O estudo que analisou o uso de AINEs pelos atletas de alta competição foi realizado por De Rose et al . ( 2006 ) durante a realização dos VII Jogos Desportivos Sul-Americanos . A amostra foi constituída por atletas campeões das respetivas competições , o que pressupõe um elevado grau de desempenho físico . A comissão médica constatou que das classes de medicamentos utilizadas nos três dias que antecederam o controlo 37 % eram AINEs , para além da utilização de antibióticos e de outros analgésicos , como o paracetamol . A elevada utilização dos AINEs deve-se á necessidade de tratamento das lesões resultantes do treino em contexto de alta competição .
O único estudo publicado sobre o cetorolac intramuscular ( IM ) conclui que não existe maior efeito analgésico em comparação com o cetorolac oral . Além disso parece que os efeitos adversos , como aumento do risco hemorrágico e complicações renais , são mais elevados . Contudo , esta forma de administração ainda continua a ser muito usual na prática desportiva 21 .
O parecoxib é um inibidor seletivo da COX – 2 usado habitualmente na prática desportiva na dor muito intensa após trauma e antes dos jogos como profilático para a dor . A sua eficácia ainda não está estabelecida com segurança . Tem a vantagem de ter um rápido início de ação após injeção endovenosa e duração de ação de cerca de 4 horas 19 .
Usa-se com muita frequência o diclofenac IM antes dos jogos , de forma a reduzir as dores musculares e dessa forma aumentar a tolerância do atleta á dor . A literatura atual não demostra eficácia quanto á utilização deste fármaco como profilático de dor durante competições 19 .
Analgésicos não anti-inflamatórios
O paracetamol não inibe a resposta inflamatória . O seu uso é seguro em lesões agudas nas doses de 3 a 4 g / dia e o seu inicio de ação é ao fim de 1 hora . A incidência de efeitos adversos é equivalente à do placebo 3 , 16 .
A codeína é um analgésico mais potente do grupo dos narcóticos . É usualmente associada ao paracetamol de forma a haver efeito aditivo . Os efeitos colaterais da codeína assemelham-se aos da morfina , especialmente quando esta é utilizada em altas doses . Os mais comuns incluem : sonolência , ataxia , miose , prurido , náuseas , edema , obstipação , narcose e convulsões . O início de ação por via oral é obtido entre 30 minutos e 1 hora , com ação máxima entre 1 e 2 horas . A sua duração de ação varia entre 4 e 6 horas 3 .
O tramadol é também um analgésico potente pertencente ao grupo dos narcóticos . Têm a desvantagem de apresentar uma elevada incidência de efeitos laterias ( cerca de 20 % dos doentes ), nomeadamente náuseas , vómitos e sonolência . Estes podem ser minimizados com o uso concomitante de metoclopramida 3 .
O metamizol magnésico é um derivado pirazolónico não narcótico que possui ação analgésica , antipirética e espasmolítica . O seu mecanismo de ação não está completamente esclarecido . Alguns dados indicam que o metamizol e o seu metabolito principal ( 4-N-metilamino-antipirina ) poderão ter ação central e periférica . Em doses supraterapêuticas verifica-se um efeito antiflogístico que poderá resultar da inibição da síntese das prostaglandinas . O metamizol magnésico está indicado no tratamento da dor aguda no período pós-operatório ou pós-traumático 3 .
Existe uma série de substâncias analgésicas proibidas em medicina desportiva pela AMA : buprenorfina , dextromoramida , diamorfina ( heroína ), fentanil e os seus derivados , hidromorfona , metadona , morfina , oxicodona , oximorfona , pentazocina e petidina 1 .
A dor Neuropática
A dor neuropática ( DN ) é causada pela lesão ou disfunção do sistema nervoso , como resultado da ativação anormal das vias da dor . As principais causas desta síndrome são : diabetes mellitus , nevralgia pós- -herpética , nevralgia do trigémeo , dor regional complexa , esclerose múltipla , compressões de nervos periféricos ( ciática ), síndroma do túnel cárpico , entre outros . Nos últimos anos a DN tem vindo a receber especial atenção por dois motivos principais : 1 ) refratarismo terapêutico de várias síndromes dolorosas com componentes neuropáticos predominantes e 2 ) desenvolvimento de ferramentas diagnósticas para o reconhecimento deste tipo de dor .
Os pacientes com DN apresentam queixas múltiplas e complexas . É diferente da dor nociceptiva e há pobreza de descritores verbais para caraterização da dor neuropática . Tais queixas dividem-se em dores espontâneas ( aquelas que aparecem sem nenhum estímulo detetável ), contínuas ou paroxísticas , e em dores evocadas ( respostas anormais ao estímulo ). A dor contínua é frequentemente descrita nos tecidos cutâneos superficiais ou profundos e menos comumente nos tecidos viscerais . A dor cutânea é descrita como “ em queimadura ”, “ em pontada ”, “ ardência ”, enquanto a dor profunda é descrita como “ surda ” ou em “ cãibra ”. Os achados anormais no exame físico neurológico sensitivo no paciente com dor sugerem o diagnóstico de DN . Também importante é a avaliação do tónus
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