Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2012 | Page 18

Tema 4 Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (1), pp. 16–19 Condroprotecão preventiva no desporto Henrique Jones Especialista em Ortopedia e Medicina Desportiva. Ex director Clinico e Director do serviço de Ortopedia do Hospital da Força Aérea. Médico da Federação Portuguesa de Futebol. Membro do Comité Médico da UEFA. Clinica Ortopédica do Montijo. 3. Osteoartrose como doença do condrócito? RESUMO ABSTRACT A preocupação permanente com as lesões de sobrecarga, ou lesões destrutivas da cartilagem, deverá ser preocupação constante dos médicos ligados ao desporto pelo simples facto de representar a causa mais importante de abandono desportivo. A perspectiva terapêutica do desporto implica um conhecimento aprofundado da cartilagem como tecido de características muito particulares, no sentido de prevenir a muitas vezes constatada irreparabilidade da lesão articular. Neste contexto, em que acumulação traumática é um facto e as lesões agudas são frequentes, acreditamos que se poderá justificar, entre outras medidas, a administração de terapêuticas (Glucosamina, Condroitina, Antioxidantes) e de injeções regulares de ácido hialurónico, na prevenção da progressão de lesões condrais, em casos específicos e individualizados. The permanent concern with the overload injuries, or destructive injuries of the cartilage, must be a constant concern of the sports medicine doctors, because they represent the most important cause of sports retirement. The therapeutic perspective of sports practice implicates a deep knowledge of the cartilage as very particular tissue, with specific characteristics, with the perspective of preventing the quite often irreversible damages of articular cartilage. In this context, where traumatic overload is a fact, and the acute injuries are frequent, we believe that, among others, it is justified the administration of therapeutics (Glucosamina, Condroitina, Antioxidants) and of regular injections of hialuronic acid, in order to prevent the progression of the condral injuries, on specific and individualized cases. PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS Condroproteção, prevenção, lesões condrais, doença do condrócito. Chondroprotection, prevention, chondral injuries, condrocyte disease. 1. Introdução A atividade física é sinónimo de vida saudável e é uma das mais importantes ferramentas terapêuticas num número considerável de patologias. Existem, no entanto, dúvidas relacionadas com a hiper-solicitação das estruturas anatómicas, nomeadamente no que diz respeito ao impacto do exercício físico nas estruturas articulares e à eventual contribuição para o desenvolvimento precoce de osteoartrose. Cada vez mais a Medicina Desportiva e a Traumatologia do desporto focalizam a sua atenção na correlação entre a atividade desportiva e a lesão condral à medida que surgem, com maior frequência, estudos que mostram um significativo aumento das lesões condrais em jovens desportistas. O facto da lesão condral evolutiva poder significar, independentemente da acumulação 16 · Janeiro 2012 www.revdesportiva.pt satisfazer as necessidades internas de remodelação. No tecido adulto normal a homeostase da matriz é balanceada de forma a não haver nem perda, nem ganho de tecido. Estes processos são controlados por uma variedade de proteínas, denominadas de fatores de crescimento e citoquinas (Quadro 1). A matriz extra celular é rica em colagénio e proteoglicanos (Figura 1), principalmente agrecanos. Na cartilagem adulta cerca de 90% do colágeno é do tipo II e 10% composto pelos tipos IX, Xl, X e VI. As fibrilhas de colágeno II são responsáveis pela força de tensão da cartilagem, a qual é essencial para a manutenção da forma e volume do tecido(4). Na osteoartrose a matriz tem as propriedades alteradas devido à mudança qualitativa dos seus componentes. Os condrócitos passam a sintetizar colágeno tipo I e III (ao invés do II) e proteoglicanos mais curtos. Esta rotura de equilíbrio entre síntese e degradação da matriz cartilagínea ocorre pelo aumento da produção de enzimas proteolíticas capazes de digerirem o agrecano e o colágeno. traumática ou lesão aguda prévia, uma verdadeira “ Doença do Condrócito”, em contexto bioquímico e molecular, leva o autor a perspetivar a condroproteção preventiva como forma de ajuda externa para o abrandamento degenerativo, através da acção nutritiva e antidestrutiva da cartilagem articular(5). 2. Cartilagem – caraterísticas específicas No metabolismo normal da cartilagem o condrócito dirige a reciclagem dos componentes da matriz (provável mediação enzimática) para Figura 1. Aspeto microscópico do condrócito e da matriz cartilagínea 3.1. O papel das forças mecânicas O papel das forças mecânicas tem sido estudado com diferentes modelos, parecendo justificar, em Quadro 1. Agentes moduladores da matriz cartilagínea CATABÓLICOS ANABÓLICOS Enzimas proteolíticas (Colagenases, Stromelisina, Agrecanase) Inibidores enzimáticos (TIMPs) Citoquinas (IL-1, TNF alfa, IL-17) Fatores de crescimento (TGFbeta, IGF-1) NO e PG E2 Antioxidantes