Revista Crea-SP | nº 08 | Page 16

PERFIL ENXERGANDO O MUNDO COM OUTRAS CORES semáforo e pintei o verde de laranja e aí a professora achou estranho, porque eu era boa aluna, chamou a minha mãe, que sabia que eu era daltônica, porque o meu pai também é, apesar de não assumir isso (risos). Na família a gente já sabia, mas pra mim não era uma coisa oficial”, diz Fabiana. Com o tempo “você cria mecanismos de ajuda. Decorei os números dos lápis de cor para me ajudar, a caixa de 36 cores tinha os números. Gostava de pintar certinho”, diverte-se. A Analista de RH Fabiana Tonelo da Graça Mota “Se eu olhar para uma cor e não conseguir identificá-la, eu falo que é verde, porque eu sei que é aquele espectro, eu chuto no verde e acabo acertando”. QUASE OITO ANOS DE CREA-SP Da próxima vez que você cruzar com a Fabiana do RH na Sede Faria Lima, não pergunte a ela qual é a cor da roupa que você está vestindo naquele dia. Para quem é daltônico, não tem “brincadeirinha” pior. Nossa colega faz parte de um seleto grupo (estima-se 8% da população masculina e apenas 1% das mulheres) com um distúrbio genético ligado ao cromossomo X que faz com que essas pessoas possam apresentar problemas para reconhecer, identificar e diferenciar cores, tonalidades ou brilhos. Famosos como o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, o empresário Mark Zuckerberg, o ator Keanu Reeves e o Príncipe William (embora não admita isso publicamente) são daltônicos. Dizem que Van Gogh (pasme!) também era. As mulheres daltônicas são raridade, como a apresentadora Ana Furtado. De que cor Fabiana enxerga seus belos olhos verdes? “Eu os enxergo verdes mesmo (risos). Não sou uma daltônica que não vê cores: eu vejo, só que eu as confundo. As cores primárias eu identifico bem. 16 | R E V I S T A CREA-SP Mas quando começa a entrar nas misturas, nas terciárias, esses tons pastéis, clarinhos, aí complica bastante. O verde e o vermelho são os mais complicados, posso falar que é marrom, amarelo, meio pro laranja. Se eu olhar para uma cor e não conseguir identificá-la, eu falo que é verde (risos), porque eu sei que é aquele espectro, eu chuto no verde e acabo acertando (risos)”, explica. A descoberta aconteceu no período da pré-escola. “Eu percebia que uma prima três anos mais nova, quando ia pintar, usava todos os lápis, mudava as cores, e eu não me sentia confortável, pintava e alguém falava ‘mas não é dessa cor’, meu desenho não ficava tão bonito. A ficha caiu quando fui pintar um Fabiana foi admitida no Conselho em agosto de 2010, após passar pela área comercial da Ambev, Telesp Celular (depois Vivo) e Tenda Construtora. “Eu tinha certo preconceito em entrar para a área pública. Mas quando você entra, vê que as áreas internas, a parte operacional trabalha e trabalha muito. Não tem aquela coisa de ganho, mas não trabalho”, revela. Administradora de empresas formada pela USP em 2001, Fabiana é Analista de Recursos Humanos e, desde agosto do ano passado, está na área de cargos e salários. “Estou gostando bastante: é uma área mais criteriosa, mais analítica. É um trabalho proativo, analítico e organizado. A equipe é ótima, com pessoas experientes. Estou feliz, me sentindo desafiada e confortável, pois sempre tenho a quem recorrer em caso de dúvida”, analisa, com a experiência de ter ficado bastante tempo na área de benefícios e, por um período, no ponto-frequência. “A Fabi é uma pessoa inteligente e muito sensível. Vejo nela disposição para ajudar as pessoas e bastante criatividade no cotidiano do trabalho. Sou grata a ela por nossa amizade e pelo bom convívio que temos dentro e fora do ambiente de trabalho”, destaca a colega do RH Edmira Cristina Alves de Oliveira. O daltonismo chega a ser um fator limitante no ambiente de trabalho? “Eu tenho que pedir pras pessoas não fazerem escalas com cores muito clarinhas; texto, por exemplo, se pintar uma letra e não fizer um destaque, tenho dificuldade para identificar, passa despercebido. Então tento me adequar nesse sentido, conversar com as pessoas. Quando eu faço, faço de um jeito que eu mesma consiga perceber a diferença. Se você for pensar na questão da acessibilidade, o quanto mais simples pra todo mundo entender, é o melhor. As pessoas não falam muito disso, mas tem muito daltônico por aí”, comenta. Ao escolher a profissão que ia seguir “descartei a Arquitetura, que era uma coisa que eu tinha a intenção de fazer, por causa dessa dificuldade. Mas o meu pai trabalhou a vida toda com tecido, que tem código, muita variação. Tem coisa pior?”, avalia. R E V I S T A CREA-SP | 17