FAMÍLIA
TODA BOA MÃE VAI VIVER
aquele momento em que, bem
criados, os filhos resolvem partir
para seus voos solo, conquistando
a tão sonhada independência.
O lugar vago no quarto (mas
não no coração) pode render
reações diversas: certas mães
ficam nostálgicas, algumas mais
melancólicas e, em casos mais
extremos (mas não tão raros),
a tristeza da ausência pode
até desencadear um caso de
depressão profunda.
A chamada síndrome do ninho
vazio é famosa e carregada de
significados os mais diversos, mas
não precisa ser necessariamente
uma experiência negativa ou
traumatizante. Em alguns casos,
essa ruptura pode ser igualmente
enriquecedora (e, por que não,
engraçada) para filhos e mães.
É o que conta a Engenheira
Agrônoma Francisca Ramos de
Queiroz, a Nina, Chefe da
UGI Leste. “Como me
divorciei há muitos
anos e meus filhos
tinham entre 16 e 7
anos, a experiência
em si foi vivida
sozinha.
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R E V I S T A CREA-SP
NINHO
VAZIO,
CORAÇÃO
PLENO
Eu sempre tive que enfrentar essas
situações objetivamente e ajudei
nos seus processos
apoiando, pois
sempre acreditei
na liberdade
de escolha”,
diz. São quatro
filhos: Nímia
Paula, 32 anos;
Diego Antonio, 31; César Andrés,
28 e Victor Ariel, 26.
“Emancipei o César com 14
anos para jogar futebol no Chile
pelo Santiago Wanders e depois
pela UC Universidad Católica; a
Nímia saiu de casa aos 20 anos
para viver com o pai do meu
netinho; o Diego saiu de casa
aos 24 anos para viver com a
namorad a; já o Victor se envolveu com ‘skinheads’ e o enviei para
a Inglaterra fazer um intercâmbio”, explica. Hoje o filho mais jovem
vive na Irlanda, já como cidadão.
Sua própria experiência ao sair de casa certamente ajudou
a entender melhor a situação. “Saí (de casa) aos 17 anos para
morar no Interior e fazer faculdade, morando em pensão de
meninas e depois em repúblicas. Os tempos eram outros e até para
telefonar era caro e de difícil acesso. Mas meus pais lidavam com
isso tranquilamente. Não me cobravam presença e, quando não
estagiava , eu ficava em casa com eles. Quando me formei, voltei,
fiquei um ano e saí de novo, dessa vez para casar”, recorda-se.
Lidar com as ausências foi necessário. “Na verdade, eu digo
que meus filhos são ‘bumerangues’ porque vão, mas voltam. Todos
voltaram quando minha mãe morreu, para viver em minha casa
(risos). A Nimia se separou e voltou com o ‘pacotinho’; o Diego teve
problemas financeiros e voltou para casa e trouxe a namorada;
o César sofreu uma lesão no joelho e parou de jogar, voltando
também; o Victor é o único que não pode voltar (risos). Na realidade
sempre tinha alguém em casa e sentia mais falta nas datas festivas,
quando sempre faltava um deles. Mesmo assim éramos muitos
(inclusive meu pai). E sempre fomos muito festeiros, o que ajudava
a lidar com a saudade”, ressalta.
Quem voltou a morar com Nina agora foi seu
pai. “Todos saíram, estão casados e vivendo suas
vidas longe de mim, na Irlanda, no Uruguai e em
Sumaré. Sinto que, apesar da trabalheira, foi
maravilhoso e gostaria de ter feito mais coisas
juntos. Sinto falta deles pequenos... era bem
mais divertido! Às vezes, vejo fotos, posto no
Facebook para eles morrerem de vergonha (risos)
e dividir um pouco essa bonita história”, conta.
A Analista de Serviços Administrativos Deise
Camilo Antunes (SEC) tem dois filhos de uniões distintas:
Diogo, nascido em 1986, e Inácio, nascido em 2005. “Eu e o Diogo
tivemos uma relação de muita amizade e cumplicidade. Contávamos
nossas histórias e conversávamos horas sobre tudo o que ia pelo
mundo: mudanças comportamentais, política, amigos, paqueras.
Diogo era um garoto precoce, inteligente e de uma docilidade
incrível, o que facilitava nosso relacionamento bastante franco e
aberto”, recorda.
Quanto o filho mais velho estava com 19 anos, Deise foi
mãe novamente. “Costumo brincar com o Diogo que ele ficou
tão enciumado por causa do irmão que resolveu se casar (risos).
Bobagem! O fato é que, como o Diogo sempre
foi um garoto precoce, não me surpreendi
quando ele me anunciou seu noivado aos 20
anos e seu casamento para daí um ano. Foram
dias intensos e cheios de novidades”, relembra.
Aos 21 anos, em 2007 Diogo abandonou o
ninho pela primeira vez. “Nesse período, creio
que, por estar envolvida em outra maternidade,
em que tudo era tão diferente da primeira,
confesso, não senti muito a ausência de
seu sorriso, de sua docilidade e de
sua inteligência, características tão
marcantes”, ressalta.
O baque veio mais tarde. “O
tempo passou e, com ele, novos
rumos, novos projetos... a vinda
de um netinho trouxe-me alegrias
e realizações profundas como ser
humano. Henrique chegou em 2014. Ainda
me adaptava ao novo ‘serzinho’ da família, me
inebriava com um sorriso tão puro, quando, em
fevereiro de 2015, meu Diogo anunciou que ele
e sua família partiriam para morar em outro país.
Aí sim. Meu Deus! Como foi difícil ver parte do
ninho ficar novamente vazio! Quando estavam
aqui podíamos nos ver, nos tocar, rir, chorar juntos.
E agora? Então decidi observar a saudade, um
sentimento que pode nos levar aos extremos, ao
choro, à alegria, raiva, indecisão, ao medo do nada
e ao medo do tudo... Não a venci, apenas aprendi
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