Revista Cancao Nova Janeiro 2014 | Page 10

Matéria especial Fraternidade, fundam Ao permanecer diante da televisão por cinco minutos para assistir a um noticiário, a impressão é de um mundo pelos avessos. Notícias de conflitos entre países, atos de violência no trânsito, brigas por motivos banais que terminam em morte. Em grandes ou pequenas proporções, o que se vê ao redor assusta e indica uma sociedade cada vez mais incapaz de viver a fraternidade. O Papa Francisco escolheu como tema da sua primeira Mensagem para o 47º Dia Mundial da Paz, celebrado neste 1º de janeiro, “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. Ao divulgar o tema, o Pontifício Conselho para a Justiça e Paz destaca que a cultura do bem-estar faz perder o sentido da responsabilidade e da relação fraterna. “Os outros, em vez de serem nossos semelhantes, aparecem como inimigos, e são muitas vezes coisificados”, destaca o texto. Desde o início de seu pontificado, o Papa argentino alerta para a “cultura do descartável” que “coisifica” a pessoa humana, tornando-a um simples objeto. Já a “cultura do encontro” é a proposta de Francisco para combater esse desrespeito ao próximo e proporcionar um mundo mais justo e pacífico. Porém, a “cultura do encontro” enfrenta uma grande inimiga: a intolerância. Ela é, muitas vezes, o pano de fundo dos grandes conflitos que terminam em guerras, mas também do desrespeito entre irmãos que habitam a mesma casa. Segundo explica o especialista em Oriente Médio, Padre Samir Khalil, a intolerância, seja religiosa 10 Revista Canção Nova JANEIRO 2014 ou cultural, tem “financiado” as guerras que destroem nações. O jesuíta árabe destaca ainda a falta de perdão como impulso para o comportamento intolerante entre religiões e povos. “Se queremos progredir no caminho da fraternidade, da paz, da serenidade com todos, devemos aprender a perdoar, e isso é a coisa mais difícil no mundo! Sabendo que o outro me fez o mal, eu digo: que Deus te perdoe. Este é o verdadeiro caminho da paz, é isso que foi proposto pelo Papa Francisco”, alerta Padre Samir. O apelo de paz de Francisco alcança o mundo porque é algo já presente no coração humano, explica o especialista. Ao pedir paz, o Papa convida o homem a ser coerente com a lei presente em sua consciência e coração. De acordo com Padre Samir, foi por esse motivo que as constantes mensagens do Papa pela paz no Oriente Médio, e principalmente em prol da Síria no último ano, causaram grandes repercussões. “O apelo do Papa tocou profundamente o coração dos muçulmanos, daqueles que moram em países de raiz islâmica. Eles se uniram em oração e jejum, mostrando que é essa a verdadeira estrada dos que creem”, conta o religioso egípcio que atualmente mora no L