Matéria especial
Fraternidade, fundam
Ao permanecer diante da televisão por cinco minutos para assistir a um noticiário, a impressão é de um
mundo pelos avessos. Notícias de conflitos entre países,
atos de violência no trânsito, brigas por motivos banais
que terminam em morte. Em grandes ou pequenas proporções, o que se vê ao redor assusta e indica uma sociedade cada vez mais incapaz de viver a fraternidade.
O Papa Francisco escolheu como tema da sua primeira Mensagem para o 47º Dia Mundial da Paz, celebrado neste 1º de janeiro, “Fraternidade, fundamento e
caminho para a paz”. Ao divulgar o tema, o Pontifício
Conselho para a Justiça e Paz destaca que a cultura do
bem-estar faz perder o sentido da responsabilidade e da
relação fraterna. “Os outros, em vez de serem nossos
semelhantes, aparecem como inimigos, e são muitas vezes coisificados”, destaca o texto.
Desde o início de seu pontificado, o Papa argentino alerta para a “cultura do descartável” que “coisifica”
a pessoa humana, tornando-a um simples objeto. Já a
“cultura do encontro” é a proposta de Francisco para
combater esse desrespeito ao próximo e proporcionar
um mundo mais justo e pacífico.
Porém, a “cultura do encontro” enfrenta uma grande inimiga: a intolerância. Ela é, muitas vezes, o pano de
fundo dos grandes conflitos que terminam em guerras,
mas também do desrespeito entre irmãos que habitam a
mesma casa. Segundo explica o especialista em Oriente Médio, Padre Samir Khalil, a intolerância, seja religiosa
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Revista Canção Nova JANEIRO 2014
ou cultural, tem “financiado” as guerras que destroem
nações. O jesuíta árabe destaca ainda a falta de perdão
como impulso para o comportamento intolerante entre
religiões e povos.
“Se queremos progredir no caminho da fraternidade,
da paz, da serenidade com todos, devemos aprender a
perdoar, e isso é a coisa mais difícil no mundo! Sabendo
que o outro me fez o mal, eu digo: que Deus te perdoe.
Este é o verdadeiro caminho da paz, é isso que foi proposto pelo Papa Francisco”, alerta Padre Samir.
O apelo de paz de Francisco alcança o mundo porque é algo já presente no coração humano, explica o
especialista. Ao pedir paz, o Papa convida o homem a
ser coerente com a lei presente em sua consciência e
coração. De acordo com Padre Samir, foi por esse motivo que as constantes mensagens do Papa pela paz no
Oriente Médio, e principalmente em prol da Síria no último ano, causaram grandes repercussões.
“O apelo do Papa tocou profundamente o coração
dos muçulmanos, daqueles que moram em países de raiz
islâmica. Eles se uniram em oração e jejum, mostrando
que é essa a verdadeira estrada dos que creem”, conta
o religioso egípcio que atualmente mora no L