TOLERARE
nos prevenir e de resolver por outros meios que não
sejam os violentos. Nas relações familiares e
interpessoais reside a oportunidade de crescimento da
nossa personalidade, através da comunicação e
estimulando a inteligência emocional desde cedo,
respeitando o espaço do outro, aceitando a diferença
de ideias de cada um que é uma forma de aplicar a
tolerância no nosso dia a dia.
Ser tolerante traz inúmeras vantagens, em curto e em
longo prazo. Algumas delas estão relacionadas com o
aperfeiçoamento na expressão das suas ideias, ao
apresentá-las a alguém que nem sempre pensa da
mesma forma. Também, está associada a um maior
respeito, que é uma das virtudes e que nos torna
melhores pessoas, ao tolerarmos mais os erros, numa
atitude de aprendizagem constante, nossa e do outro,
vivemos mais tranquilos e otimistas, o que se traduz
em mais saúde mental e física.
É um trabalho que podemos começar pela nossa e
pelas próximas gerações, aceitando que todos nós
somos diferentes e compreender que estamos
continuamente em ritmo de aprendizagem. Tolerar a
diferença é um grande passo para a felicidade.
O homem é um ser social e possui uma
individualidade. Não é perfeito e, portanto, sob
diversos aspectos, limitado. Precisa viver consigo
mesmo e com os outros, porém, as leis pessoais não
são as mesmas que as sociais. Pelo valor que é
individualidade, alguns homens são melhores em
certos aspectos; outros, em outros, e assim a
sociedade se completa e a vida social é possível.
Mas a moeda tem outra face e o fato das pessoas
diferirem em tantos aspectos pode gerar atritos de
valores. Os limites das pessoas também são
diferentes. Neste ponto começa o limite entre o
pessoal e o social.
Existem situações que podem ser ignoradas, passíveis
de serem aceitas, em prol da sociedade, do bem
comum. Mas o limite não é fixo, pode variar muito:
toleramos algo numa manhã, mas se o mesmo
assunto for apresentado à noite..., passa dos limites.
Seria maravilhoso se este limite fosse mais elástico, e
de certo modo o é. O limite à tolerância tem por um
lado à manutenção da individualidade e por outro a
inclusão do individual no social. Se isto não ocorrer,
alguns perdem sua individualidade e outros são
excluídos e preferem se isolar do convívio social.
Tomás de Aquino diz que a tolerância é o mesmo que
a paciência. E a paciência é justamente o bom humor
24 - REVISTA AMOORENO - NOVEMBRO 2018
ou o amor que nos faz suportar as coisas
desagradáveis. Tudo que está vivo tende a se
organizar. Mas o homem, sendo livre, pode “ajudar” a
desorganizar o mundo. Como num processo de
tentativa e erro, as pessoas buscam soluções para
viver consigo mesmo e com as demais. Às vezes,
parece que temos na mão um saco cheio de bolas,
que tentamos arremessar e colocá-las dentro de um
buraco distante. De modo simplista, dizemos que
podemos acertar ou não, mas na prática, as coisas
não ocorrem bem assim. O acerto aparece como uma
vitória. Foram centenas de arremessos, e justamente
um, aceita o desagradável, com paciência e bom
humor.
Também na literatura universal, existem alguns
provérbios que falam sobre a tolerância. Tolérance
n’est pás quittance, que poderíamos traduzir por:
“Tolerância não é liberdade total”.
Numa pequena cidade do interior, um deficiente físico,
sem pernas, perambulava pela cidade com auxílio das
duas mãos e o apoio do tronco. Durante anos, no seu
trajeto, era debochado por um homem que dizia: “Vai
gastar o...”. Um dia ele perdeu a paciência e matou o
importunador. Na justiça, o aleijado foi duramente
atacado, e tido como assassino cruel. O advogado, ao
iniciar a defesa, falou durante dez minutos elogiando a
qualidade de cada membro do júri, até que o juiz
interrompeu: “Se o senhor não iniciar a defesa, não
permitirei que prossiga”. Sabiamente, o advogado
respondeu: “Meritíssimo, se o senhor não aguentou
dez minutos de elogios, imagine a situação do réu que
suportou anos de insultos”. Nestes casos, pode valer o
provérbio: “Não seja intolerante a menos que você se
confronte com a intolerância”.
Quanto à tolerância, costumamos atuar, como diz o
provérbio, “com dois pesos e duas medidas”:
tendemos a ser muito complacentes com os desvios
de nossa conduta (e isto quando os reconhecemos) e
implacáveis com os outros: não lhes damos o tempo
“Tolerância é dar aos outros seres
humanos todos os direitos que você
exige para si mesmo”.