Revista Amooreno Edição10 - NOV18 | Page 24

TOLERARE nos prevenir e de resolver por outros meios que não sejam os violentos. Nas relações familiares e interpessoais reside a oportunidade de crescimento da nossa personalidade, através da comunicação e estimulando a inteligência emocional desde cedo, respeitando o espaço do outro, aceitando a diferença de ideias de cada um que é uma forma de aplicar a tolerância no nosso dia a dia. Ser tolerante traz inúmeras vantagens, em curto e em longo prazo. Algumas delas estão relacionadas com o aperfeiçoamento na expressão das suas ideias, ao apresentá-las a alguém que nem sempre pensa da mesma forma. Também, está associada a um maior respeito, que é uma das virtudes e que nos torna melhores pessoas, ao tolerarmos mais os erros, numa atitude de aprendizagem constante, nossa e do outro, vivemos mais tranquilos e otimistas, o que se traduz em mais saúde mental e física. É um trabalho que podemos começar pela nossa e pelas próximas gerações, aceitando que todos nós somos diferentes e compreender que estamos continuamente em ritmo de aprendizagem. Tolerar a diferença é um grande passo para a felicidade. O homem é um ser social e possui uma individualidade. Não é perfeito e, portanto, sob diversos aspectos, limitado. Precisa viver consigo mesmo e com os outros, porém, as leis pessoais não são as mesmas que as sociais. Pelo valor que é individualidade, alguns homens são melhores em certos aspectos; outros, em outros, e assim a sociedade se completa e a vida social é possível. Mas a moeda tem outra face e o fato das pessoas diferirem em tantos aspectos pode gerar atritos de valores. Os limites das pessoas também são diferentes. Neste ponto começa o limite entre o pessoal e o social. Existem situações que podem ser ignoradas, passíveis de serem aceitas, em prol da sociedade, do bem comum. Mas o limite não é fixo, pode variar muito: toleramos algo numa manhã, mas se o mesmo assunto for apresentado à noite..., passa dos limites. Seria maravilhoso se este limite fosse mais elástico, e de certo modo o é. O limite à tolerância tem por um lado à manutenção da individualidade e por outro a inclusão do individual no social. Se isto não ocorrer, alguns perdem sua individualidade e outros são excluídos e preferem se isolar do convívio social. Tomás de Aquino diz que a tolerância é o mesmo que a paciência. E a paciência é justamente o bom humor 24 - REVISTA AMOORENO - NOVEMBRO 2018 ou o amor que nos faz suportar as coisas desagradáveis. Tudo que está vivo tende a se organizar. Mas o homem, sendo livre, pode “ajudar” a desorganizar o mundo. Como num processo de tentativa e erro, as pessoas buscam soluções para viver consigo mesmo e com as demais. Às vezes, parece que temos na mão um saco cheio de bolas, que tentamos arremessar e colocá-las dentro de um buraco distante. De modo simplista, dizemos que podemos acertar ou não, mas na prática, as coisas não ocorrem bem assim. O acerto aparece como uma vitória. Foram centenas de arremessos, e justamente um, aceita o desagradável, com paciência e bom humor. Também na literatura universal, existem alguns provérbios que falam sobre a tolerância. Tolérance n’est pás quittance, que poderíamos traduzir por: “Tolerância não é liberdade total”. Numa pequena cidade do interior, um deficiente físico, sem pernas, perambulava pela cidade com auxílio das duas mãos e o apoio do tronco. Durante anos, no seu trajeto, era debochado por um homem que dizia: “Vai gastar o...”. Um dia ele perdeu a paciência e matou o importunador. Na justiça, o aleijado foi duramente atacado, e tido como assassino cruel. O advogado, ao iniciar a defesa, falou durante dez minutos elogiando a qualidade de cada membro do júri, até que o juiz interrompeu: “Se o senhor não iniciar a defesa, não permitirei que prossiga”. Sabiamente, o advogado respondeu: “Meritíssimo, se o senhor não aguentou dez minutos de elogios, imagine a situação do réu que suportou anos de insultos”. Nestes casos, pode valer o provérbio: “Não seja intolerante a menos que você se confronte com a intolerância”. Quanto à tolerância, costumamos atuar, como diz o provérbio, “com dois pesos e duas medidas”: tendemos a ser muito complacentes com os desvios de nossa conduta (e isto quando os reconhecemos) e implacáveis com os outros: não lhes damos o tempo “Tolerância é dar aos outros seres humanos todos os direitos que você exige para si mesmo”.