Revista Amooreno Edição10 - NOV18 | Page 14

U ma das grandes belezas do Rio de Janeiro não está visível para a maioria dos cariocas. Localizado no subsolo do Theatro Municipal, o Salão Assyrio teve início juntamente com a inauguração do Teatro. Foi inaugurado na praça Marechal Floriano, esquina com a então Avenida Central, atual Rio Branco. O evento teve a presença do presidente da República, Nilo Peçanha (1 867 - 1 924), e do prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1 855 - 1 935), dentre outras personalidades. A um discurso de Olavo Bilac (1 865 - 1 91 8), seguiu-se a programação artística da inauguração: sob a regência do maestro Francisco Braga (1 868 - 1 945) foram executados o poema sinfônico de sua autoria, Insomnia, e do noturno da ópera Condor, de Carlos Gomes (1 836 - 1 896). Depois foi encenado um delicioso ato em prosa do grande estilista Coelho Neto, Bonança. Na terceira e última parte do espetáculo foi apresentada a ópera Moema, de Joaquim Torres Delgado de Carvalho (1 872 - 1 921 ). Após a apresentação, vários espectadores foram para o Salão Assyrio, até então restaurante do teatro ( O Paiz, 1 4 de julho e 1 5 de julho de 1 909; e Gazeta de Notícias, 1 5 de julho de 1 909). O Salão Assyrio abrigou também, em duas décadas passadas, os primeiros grandes bailes de mascaras do Municipal. Ali funcionou também um cabaré - onde se apresentava Pixinguinha, acompanhado de seu legendário grupo "Os Oito Batutas" - e ainda o Museu do Theatro. Após a restauração ocorrida entre 1 976 e 1 978, o espaço retornou à sua atividade inicial de restaurante. Quem chega pela primeira vez ao restaurante Assyrio surpreende-se com a mudança brusca entre o estilo renascentista do Theatro e a inspiração do projeto decorativo deste salão, resultante de uma composição entre os estilos babilônico, assyrio e persa (remete à região da Babilônia e Assyria, onde é nítida a referência 14 - REVISTA AMOORENO - NOVEMBRO 2018 Um lugar secreto no Rio de Janeiro ao Palácio de Xerxes, em Persepolis (cerca de A.C., 485 - 465). O espaço, com divisão em dois planos, possui o teto baixo, sustentado por colunas que terminam com cabeças de touro, em estilo persa. As paredes do Salão, todas revestidas em cerâmica esmaltada, são decoradas por painéis de mosaico. Ali podemos apreciar a frisa de leões e a rampa das escadas do palácio de Artaxerxes, assim como a frisa dos arqueiros, original da sala do trono de Dario I, e os enormes Kerub, seres alados, que guarnecem as escadas. Há ainda, em paredes opostas, duas belíssimas fontes - a primeira reepresenta o lendário herói Gilgamesh, rei da Suméria, que aparece afixiando um leão emum alto-relevo, cujo original se encontra no Museu do Louvre, na França, sendo este o único detalhe puramente assirio da decoração; a segunda mostra o imperador Dario apunhalando um gênio do mal, inspirado na decoração de seu palácio, em Persépolis. A evocação deste período histórico ganha destaque pelos espelhos engastados em bronze antigo e a iluminação efetuada por originalíssimas lâmpadas. Os lustres têm inspiração islâmica e as luminárias, nos espelhos entre as portas, são montadas sobre touros. As portas do salão ganharam molduras de pedras gravadas com margaridas, a flor sagrada da Mesopotâmia. Atualmente no Assyrio funciona o Café do Theatro, que dá acesso para o Boulevard, o jardim do Theatro, novo espaço criado durante a última reforma, com saída para a Av. 1 3 de maio.