U
ma das grandes belezas do Rio de Janeiro não
está visível para a maioria dos cariocas. Localizado no
subsolo do Theatro Municipal, o Salão Assyrio teve
início juntamente com a inauguração do Teatro.
Foi inaugurado na praça Marechal Floriano, esquina
com a então Avenida Central, atual Rio Branco. O
evento teve a presença do presidente da República,
Nilo Peçanha (1 867 - 1 924), e do prefeito do Rio de
Janeiro, Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1 855 -
1 935), dentre outras personalidades. A um discurso de
Olavo Bilac (1 865 - 1 91 8), seguiu-se a programação
artística da inauguração: sob a regência do maestro
Francisco Braga (1 868 - 1 945) foram executados o
poema sinfônico de sua autoria, Insomnia, e do noturno
da ópera Condor, de Carlos Gomes (1 836 - 1 896).
Depois foi encenado um delicioso ato em prosa do
grande estilista Coelho Neto, Bonança. Na terceira e
última parte do espetáculo foi apresentada a ópera
Moema, de Joaquim Torres Delgado de Carvalho (1 872
- 1 921 ). Após a apresentação, vários espectadores
foram para o Salão Assyrio, até então restaurante do
teatro ( O Paiz, 1 4 de julho e 1 5 de julho de 1 909; e
Gazeta de Notícias, 1 5 de julho de 1 909).
O Salão Assyrio abrigou também, em duas décadas
passadas, os primeiros grandes bailes de mascaras do
Municipal. Ali funcionou também um cabaré - onde se
apresentava Pixinguinha, acompanhado de seu
legendário grupo "Os Oito Batutas" - e ainda o Museu
do Theatro. Após a restauração ocorrida entre 1 976 e
1 978, o espaço retornou à sua atividade inicial de
restaurante.
Quem chega pela primeira vez ao restaurante Assyrio
surpreende-se com a mudança brusca entre o estilo
renascentista do Theatro e a inspiração do projeto
decorativo deste salão, resultante de uma composição
entre os estilos babilônico, assyrio e persa (remete à
região da Babilônia e Assyria, onde é nítida a referência
14 - REVISTA AMOORENO - NOVEMBRO 2018
Um lugar secreto no Rio de Janeiro
ao Palácio de Xerxes, em Persepolis (cerca de A.C.,
485 - 465).
O espaço, com divisão em dois planos, possui o teto
baixo, sustentado por colunas que terminam com
cabeças de touro, em estilo persa. As paredes do
Salão, todas revestidas em cerâmica esmaltada, são
decoradas por painéis de mosaico. Ali podemos
apreciar a frisa de leões e a rampa das escadas do
palácio de Artaxerxes, assim como a frisa dos
arqueiros, original da sala do trono de Dario I, e os
enormes Kerub, seres alados, que guarnecem as
escadas. Há ainda, em paredes opostas, duas
belíssimas fontes - a primeira reepresenta o lendário
herói Gilgamesh, rei da Suméria, que aparece afixiando
um leão emum alto-relevo, cujo original se encontra no
Museu do Louvre, na França, sendo este o único
detalhe puramente assirio da decoração; a segunda
mostra o imperador Dario apunhalando um gênio do
mal, inspirado na decoração de seu palácio, em
Persépolis.
A evocação deste período histórico ganha destaque
pelos espelhos engastados em bronze antigo e a
iluminação efetuada por originalíssimas lâmpadas. Os
lustres têm inspiração islâmica e as luminárias, nos
espelhos entre as portas, são montadas sobre touros.
As portas do salão ganharam molduras de pedras
gravadas com margaridas, a flor sagrada da
Mesopotâmia.
Atualmente no Assyrio funciona o Café do Theatro, que
dá acesso para o Boulevard, o jardim do Theatro, novo
espaço criado durante a última reforma, com saída
para a Av. 1 3 de maio.