Revista Amooreno Edição 01 - fev/2018 | Page 35

Todos os editores dignos de referência – juntamente com Courtney Love , na fila da frente – rumaram a Paris para o desfile da Vetements , organizado adequadamente no Marché Paul Bert , um labirinto de lojas de antiguidades , entre as quais o elenco de modelos desfilou . E que elenco – uma juventude selvagem e rebelde , alguns da sua Geórgia natal , que desfilou com segurança em frente de uma plateia de fashionistas e comerciantes . As roupas em si eram composições bizarras e bonitas – nomeadamente as camisas com estampados excêntricos , onde colidiam imagens de edifícios , doces e até de Marilyn Manson . Uma sensação de soldados retornados ou refugiados com uniformes militares , calças cargo e casacos de oficiais repletos de buracos . Para as noites frias , a caminho de grandes festas rave , enormes parkas , novamente cobertas por grandes insígnias Vetements ou branding exterior . Tudo assente em sapatilhas volumosas de solas grossas , fruto de uma colaboração em curso com a Reebok . “ O desafio foi fazer com que tudo parecesse autenticamente antigo . O que na verdade é muito difícil ”, disse o designer sorrindo . Esta foi a primeira coleção desenvolvida pela Vetements desde que a empresa transferiu a sua sede para a Suíça , o que provavelmente se refletiu na qualidade do produto , ainda que a roupa tenha sido produzida na Itália . Tudo em street style sofisticado , ainda que o look de abertura tenha sido uma falsa mulher de meia idade , vestida com um incrível casaco em nylon castanho , com mangas em jacquard azul , e óculos ao estilo Jackie Onassis . Mas , a grande novidade foi o lettering , uma série de palavras e frases misturadas em t-shirts oversized . Numa delas podia ler-se “ Russia Don ’ t Mess with Me ” ( Rússia não te metas comigo ), o que parece uma referência à juventude do designer , visto que durante a sua infância a sua família foi forçada a fugir da sua região natal de Abkhazia , na Geórgia , após a guerra com a Rússia . De fato , o designer recuperou referências da sua juventude , quando sonhava em ter coisas que não estavam disponíveis na antiga União Soviética , como uma t-shirt de Marilyn Manson . “ O objetivo era cortar em pedaços as minhas t-shirts favoritas , por isso acabamos com algumas mensagens estranhas – não era suposto , mas é como se fosse obra do destino ”, disse Demna Gvasalia sorrindo num canto do mercado de antiguidades .

FEVEREIRO 201 8 - REVISTA AMOORENO - 35