Revista Amooreno Edição 01 - fev/2018 | Page 33

O reverso da roupa, o lado oculto, também não deixou de inspirar Glenn Martens, com sobretudos ou casacos completamente clássicos a revelarem, de repente, o interior, expondo costuras e forro. Noutros looks, jeans enrolados mostram um forro em pele, que atua como segundo par de calças. A coleção joga sobretudo com a noção de multiplicação. Tanto da roupa como da sua utilização. Como resume o designer: “Temos dois sobretudos e dois casacos em um. É uma mistura de peças. Nunca se sabe realmente onde começa o primeiro corpo e onde termina o segundo, é preciso que cada um o defina e escolha como quer vestir a roupa”. Alguns códigos reinventados e subvertendo outros foi uma grande mensagem da mais recente coleção apresentada pela Valentino. Sobre a direção de Pierpaolo Piccioli, a Valentino tornou-se imediatamente identificável pelos seus acabamentos rocker e pelo seu gosto por camuflados. Estes foram novamente o motivo da coleção de pronto-para-vestir masculino para o outono-inverno 2018, apresentada no hotel Salomon de Rothschild, no elegante 8º arrondissement. Só que nesta tempora da, ao invés de serem detalhes incisivos, as tachas de metal transformaram-se em preciosos acabamentos numa série de casacos de caxemira impecavelmente cortados e soberbos frockcoats. Já os camuflados, anteriormente vistos em blusões em nylon verde selva, apareceram em extraordinários casacos com motivos de animais em preto e azul, uma expressão perfeita da qualidade de couture de muitas destas peças. A Valentino também se associou à Moncler para criar alguns imponentes blusões acolchoados – suficientemente grandes para abrigar um treinador soviético durante o ambiente glacial de um jogo no Cazaquistão. Só que estas versões pareciam adequadas a um rapper, especialmente com o logotipo VLTN, redução street style do nome da marca romana, introduzido por Piccioli no ano passado. “Aristopunk, uma delicada rebelião”, foi a expressão utilizada pelo designer italiano. Embora, com toda a franqueza, se por vezes os rockers vaguearam pelos corredores e quartos das mansões desde que os Rolling Stones gravaram o seu album Their Satanic Majesties Request, a verdade é que poucos punks brotaram entre a grande burguesia. FEVEREIRO 201 8 - REVISTA AMOORENO - 33