O reverso da roupa, o lado oculto, também não deixou
de inspirar Glenn Martens, com sobretudos ou casacos
completamente clássicos a revelarem, de repente, o
interior, expondo costuras e forro. Noutros looks, jeans
enrolados mostram um forro em pele, que atua como
segundo par de calças.
A coleção joga sobretudo com a noção de
multiplicação. Tanto da roupa como da sua utilização.
Como resume o designer: “Temos dois sobretudos e
dois casacos em um. É uma mistura de peças. Nunca se
sabe realmente onde começa o primeiro corpo e onde
termina o segundo, é preciso que cada um o defina e
escolha como quer vestir a roupa”.
Alguns códigos reinventados e subvertendo outros foi
uma grande mensagem da mais recente coleção
apresentada pela Valentino. Sobre a direção de
Pierpaolo Piccioli, a Valentino tornou-se imediatamente
identificável pelos seus acabamentos rocker e pelo seu
gosto por camuflados. Estes foram novamente o motivo
da coleção de pronto-para-vestir masculino para o
outono-inverno 2018, apresentada no hotel Salomon de
Rothschild, no elegante 8º arrondissement.
Só que nesta tempora da, ao invés de serem detalhes
incisivos, as tachas de metal transformaram-se em
preciosos acabamentos numa série de casacos de
caxemira impecavelmente cortados e soberbos
frockcoats. Já os camuflados, anteriormente vistos em
blusões em nylon verde selva, apareceram em
extraordinários casacos com motivos de animais em
preto e azul, uma expressão perfeita da qualidade de
couture de muitas destas peças.
A Valentino também se associou à Moncler para criar
alguns imponentes blusões acolchoados –
suficientemente grandes para abrigar um treinador
soviético durante o ambiente glacial de um jogo no
Cazaquistão. Só que estas versões pareciam adequadas a
um rapper, especialmente com o logotipo VLTN,
redução street style do nome da marca romana,
introduzido por Piccioli no ano passado.
“Aristopunk, uma delicada rebelião”, foi a expressão
utilizada pelo designer italiano. Embora, com toda a
franqueza, se por vezes os rockers vaguearam pelos
corredores e quartos das mansões desde que os Rolling
Stones gravaram o seu album Their Satanic Majesties
Request, a verdade é que poucos punks brotaram entre
a grande burguesia.
FEVEREIRO 201 8 - REVISTA AMOORENO - 33