Revista Amooreno EDIÇÃO 14 -MAR19 | Page 29

Numa indústria onde a mudança é constante, Karl Lagerfeld esteve na dianteira por mais de 60 anos. Muito do que conhecemos e amamos da Chanel existe por causa de Lagerfeld. “Olhar para trás para quê, quando há tanto à nossa espera no futuro?”, disse uma vez para uma plateia recheada de ícones da moda. Mais do que qualquer outra pessoa, ele representou a alma da moda. Alguém interessado no que está por vir que, vorazmente, observa a nossa cultura em constante transformação. Talvez pelo temperamento alemão, talvez por pura sobrevivência, Karl Lagerfeld nunca foi dado à nostalgia. De Paris, onde vivia, criava anualmente seis coleções para a Chanel, duas para a italiana Fendi, da qual era diretor criativo há mais de 50 anos, e duas para a sua própria Karl Lagerfeld, que fundou em 2004. Como se estas dez coleções não fossem suficientes, Karl desdobrou-se em outros papéis, fotografando campanhas de moda e editoriais, realizando curtas-metragens, desenhando apartamentos de luxo em Dubai ou criando colaborações tão inusitadas como uma coleção de lápis para a Faber-Castell, um modelo para a Rolls Royce ou uma edição especial da Coca-Cola\ Diet, claro. “Posso ser comercial, mas não voo em comercial”, que é como quem diz em classe econômica, explicou Largerfeld numa entrevista à CNBC, atirando outra pérola para os fãs de memes e sites de citações. Claro que Karl Lagerfeld apenas cruza céus e oceanos no seu jato privado. Impensável seria visualizar o diretor criativo mais bem pago do mundo, em um voo comercial esticando a xícara de plástico à comissária de bordo, na classe econômica. Mesmo assim, Lagerfeld disse a razão pela qual não podia viajar em um voo comercial: “É porque as pessoas incomodam muito. Você não faz ideia!”, desabafou uma vez a uma jornalista da CNBC. “Mas, a culpa é minha, sou demasiado fácil de reconhecer”. O perfil em preto e branco com óculos de sol e rabo-de-cavalo tornou a sua imagem. Uma forma fácil de reproduzir e de identificá-lo como um ícone da cultura pop. Há uma versão amarela Simpson de Karl, diferentes bonecos para colecionadores feitos de madeira em estilo artesanal e versões mais futuristas com uma tendência para o robótico. Um visionário, Karl não se fechou dentro de uma gaiola dourada, democratizou não apenas a sua imagem, mas também as suas criações. Em 2004, Lagerfeld foi o primeiro designer de moda a colaborar com a H&M, num esforço até então inédito para chegar a um público mais abrangente. Apesar de já ter então uma carreira de 50 anos, esta foi a primeira vez que um consumidor de classe média pôde facilmente comprar uma criação de Karl Lagerfeld. Karl percebeu cedo que o pronto-a-vestir não era o primo pobre da alta-costura, mas o centro vibrante do estilo de vida de uma nova mulher realizada. Numa altura em que muitos dos seus pares procuravam abrigo em marcas de luxo estabelecidas, ele ousou experimentar sozinho, criando para múltiplas marcas com uma energia implacável. E o seu propósito não era fazer dinheiro, mas poder chegar a um público mais popular. Ele se tornou um dos designers de moda mais influentes do mundo, uma figura tão familiar que se MARÇO 2019 - REVISTA AMOORENO - 29