"A moda não é nem moral nem amoral,
mas pode elevar a moral".
Embora tenha recebido a era digital de braços
abertos, no final de contas havia algo de um
homem do século XVII em Lagerfeld, cujo
material preferido não era seda ou gaze, mas sim
papel. Numa época em que muitos designers
importantes não conseguem, literalmente,
desenhar, ele era um ilustrador prodigioso. A
curadora da sua primeira verdadeira
retrospectiva, em Bonn, em 201 4, a sua musa
intelectual, Amanda Harlech, realçou que tinha 40
mil esboços entre os quais a escolher.
Lagerfeld no Ateliê da Chloé, em 1964
"As minhas inspirações veem como flashes
eletrônicos. Vejo isso e nada mais. Os meus
esboços parecem-se com o produto final, não
perco tempo em fazer drapeados e a ouvir Verdi!
Sou um designer", disse uma vez ao Le Figaro.
O seu talento estendeu-se também ao design de
figurinos para o cinema, em particular O Festim
de Babette, vencedor de um Oscar, e à ópera,
apresentando produções no La Scala, em Milão,
no Burgtheater de Viena e no Festival de
Salzburgo. Até desenhou para divas da pop,
como Madonna na turnê Re-Invention ou Kylie
Minogue para a turnê Showgirl.
Lagerfeld em 1983, pouco antes de assumir o cargo na
Chanel
18 - REVISTA AMOORENO - MARÇO 2019
Em novembro de 2004, inventou efetivamente
uma nova categoria de moda, Masstige, a união
entre roupa a preço de mercado de massas e
marcas de prestígio, quando desenhou a primeira
colaboração de designer com a H&M. Em dois
dias, a sua gama limitada de roupas masculinas e
femininas esgotou-se em várias centenas de lojas
da H&M, onde os fashionistas lutavam pelas
roupas.