EU ME AMO
No fundo, é disso que se trata esse rebuliço todo. A
ideia não é parecer mais nova ou mais velha, mas
formidável. Vida longa aos sem-geração.
A bandeira da pluralidade, agora, apresenta-se em
vários desfiles, como no caso das apresentações de
moda praia da Água de Coco, da megarrede de fast-
fashion Renner, e da À La Garçonne (ALG), de
streetwear. São três marcas com perfis e públicos
bastante distintos, mas um engajamento parecido. E
suas passarelas comunicam essa postura mais
flexível.
“Não existe mais fazer maiô só para gente magra e
perfeita. Todo mundo é igual, então precisa ter essa
inclusão”, explica a estilista Liana Thomaz, da Água
de Coco. “A gente sempre teve essa preocupação,
mas, como o mundo está mudando muito, quisemos
colocar isso em evidência”, completa ela. Investindo
nessa mesma pluralidade, mas com uma abordagem
diferente, o empresário Fábio Souza, da ALG, é outro
que gosta de ter figuras incomuns em seus desfiles.
“Não são belezas óbvias, são pessoas com muita
personalidade. É importante representá-las da forma
como elas querem ser vistas”, fala.
No último desfile de Alta Moda da Dolce & Gabbana,
a aristocrata Lady Kitty Spencer, sobrinha da princesa
Diana, estreou na passarela, seguida pela chef
britânica negra Emma Weymouthbas. A modelo
canadense Maye Musk, de 70 anos, mostrou uma
túnica florida e a belíssima Ashley Graham, diva do
plus size, encarnou a mamma italiana. “A moda não
veste só modelos, ela veste diferentes tipos de
pessoas. Por isso, fizemos questão de chamar
amigos, personalidades de outros mundos, gente de
diversos tipos”, diz Domenico Dolce. “A ideia de o
estilista ditar a moda sozinho, usando modelos sem
24 - REVISTA AMOORENO - SETEMBRO 2018
personalidade que não têm nada a dizer para
apresentar essas roupas, está ultrapassada”, finaliza
Stefano Gabbana.
Ainda que se achar bonito passe pelo olhar do outro,
ou seja, uma construção social, é também uma decisão
pessoal, que tem tudo a ver com a autoestima. Pare de
se importar excessivamente com a opinião dos outros.
O caminho para essa revolução se constrói na sua
intimidade. São necessários outros pensamentos,
outras palavras. E mais gente como você, seja lá qual
for a sua beleza.
‘Torna-te quem tu és’, já recomendava o filósofo
alemão Friedrich Nietzche.