Revista Amazônia Nativa #2 | Page 6

P Á G I N A 5
Como você descobriu sua importância como liderança feminina indígena ?
Por incrível que pareça , eu tinha uma certa resistência de falar nesse lugar de mulher , no lugar desse posicionamento do feminismo . Eu demorei muito a entender que eu ocupava esse espaço . A gente cria uma resistência do que o feminismo é , totalmente diferente do que você faz no dia a dia enquanto uma afirmação de mulher . Essa é uma das primeiras perguntas que as pessoas fazem , quando é que você descobriu , como é que você se deu conta de que estava nesse espaço . E eu falo que na verdade eu não descobri . A gente se dá conta desse movimento de afirmação de espaço enquanto mulher quando você nasce . A partir do momento que você nasce menina , você sempre tem que ter um retorno bem diferenciado em relação aos homens , em relação aos outros líderes . E você se dá conta que tem esse papel a partir de quando você
começa a se posicionar nos problemas da sua aldeia , da sua escola . Eu nasci na Terra Indígena Parque do Tumucumaque , no extremo norte do Pará , e lá até hoje não tem uma escola avançada , tem só até a terceira série do ensino fundamental . Eu estudei nessa escola e sempre tive essa inquietação : gente , vamos avançar ! Faltava material , faltava professor , era tudo muito improvisado e isso me revoltava , mexia comigo , então eu , de certa forma , sempre liderava , conversava com colegas , questionava professor . Eu acho que é um estalo , você se dá conta que sempre teve esse papel de não se incomodar e ser a voz de quem está incomodado . A gente não falava português lá , eu aprendi a falar português bem depois , já quase adulta . As coisas que me incomodavam me despertaram . Isso foi crescendo , foi se ampliando . As coisas que incomodam não são apenas as questões da escola , da saúde na sua aldeia . São coisas muito maiores , a