Revista Amazônia Nativa #2 | Page 26

O chefe do Condisi também lembra que com a vacinação não foi diferente . “ O pessoal tem acesso às redes sociais e lá tem muita informação duvidosa . Alguns leram que quem tomasse a vacina viraria jacaré , isso esteve permeado entre os Xavante . Interpretaram como uma tentativa de extermínio , mas agora a maioria tem se vacinado ”. No mesmo sentido , Crisanto diz que a rejeição da vacina vem se transformando em aceitação . “ A princípio , muitas pessoas estavam rejeitando a vacina contra a covid-19 , agora com a intensificação da campanha em nível nacional e internamente no povo Xavante , a procura pela vacina dos próprios indígenas aumentou .” Mato Grosso é o segundo estado brasileiro com mais mortes indígenas em decorrência da pandemia : 152 , até 9 de março . O estado com maior índice de letalidade é o Amazonas , com 236 óbitos . A rápida disseminação do vírus e os problemas de estrutura do DSEI Xavante fizeram com que a taxa de letalidade atingisse a marca de 12,4 % em junho , enquanto que para os não indígenas do estado o índice era de 3,86 %.
A vacinação , no entanto , não vem chegando tão rapidamente aos indígenas Xavante que vivem em cidades ao entorno das aldeias . Esse é o caso de Lucio Xavante , secretário executivo da Federação dos Povos e Organização Indigena de Mato Grosso ( Fepoimt ). Ele , sua esposa e seu filho vivem em Barra do Garças , cidade localizada a 125 quilômetros da aldeia Nossa Senhora de Guadalupe , da Terra Indígena ( TI ) São Marcos , na região leste de Mato Grosso . O membro da Fepoimt alega que as dificuldades para chegar à aldeia são grandes . “ A minha família ainda não tomou , o nosso nome consta no monitoramento do DSEI e a nossa vacina já está garantida , mas até agora não conseguimos transporte para chegar até o local de vacinação . Eu queria pegar uma carona ”, lamenta .
De maio a junho de 2020 , o povo Xavante atravessou o pico do número de óbitos da covid-19 , segundo dados do Boletim Epidemiológico DSEI Xavante . No entanto , somente no fim de julho e início de agosto do ano passado o governo federal mobilizou forças militares para entrar nas aldeias e oferecer um socorro tardio .