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Movendo-se contra o movimento de dominação, grandes nomes femininos promoveram uma forte mudança que hoje vemos no mercado cultural. Nas palavras de uma das maiores solistas do país, Juliana Andrade (@violeiradouniverso): “ Eu costumo dizer que eu peguei a picada aberta pelas grandes mulheres que desbravaram esse preconceito maior que havia, principalmente na década de 70 e de 80, que a mulher, na música e na arte, era vista de canto de olho, de boca torcida. E a conquista foi tão grande, que o que eu recebi nesses meus 25 anos de carreira foi a dúvida: Será que ela toca mesmo? Porque, afinal, mulher não toca viola. Então, quando eu comecei, aos 15 anos com a viola nos braços, as pessoas sempre duvidaram que uma mulher seria capaz de tocar viola. Cantar já era um cenário mais comum, agora tocar, solar a viola, que era um instrumento que, até então, era conhecido apenas pelas mãos de Helena Meireles, com uma afinação diferente, e da própria Inezita. Mas solando, especificamente solando, na afinação cebolão dos grandes violeiros, como João Mulato, Tião Carreiro, Bambico… não tinha. Praticamente quando eu comecei, não tinha ninguém solando viola e, então o que eu recebi foi muita dúvida: Mas não toca, será que toca? De viola na mão uma menina, uma mulher? Reconhecer que a luta não foi fácil é um dever, saber que essas mulheres brilhantes realmente mudaram a vida de tantas outras, promovendo um novo e nobre território, de ternura, amor e força. “Eu agradeço muito as grandes mulheres que fizeram esse cenário tão promissor para nós. Para mim, já estava fácil a caminhada. Apesar das dúvidas, eu tenho que agradecer muito, porque As Galvão, a Inezita, e todas as outras, proporcionaram às mulheres mostrarem seu valor, seu verdadeiro talento”, declara Juliana Andrade, a Violeira do Universo, como também é conhecida. No Distrito Federal, a nova geração feminina da música e da viola caipira é muito bem representada pela brasiliense Maria Gabriela, a jovem Gabi Viola(@ gabiiviola). Com composições próprias, a violeira de 14 anos toca desde os nove anos e recebeu influência do avô mineiro, que também tocava o instrumento. O Encontro de Violeiros e Violeiras, ao longo dessa caminhada histórica, em consonância com a série de mudanças e lutas ocorridas, acrescentou em seu título o termo Violeiras, reconhecendo a necessidade de evidenciar, valorizar e reconhecer todo o esforço e dedicação de todas essas mulheres que fazem e contribuem para a história da música e da viola que completa, neste ano,90 anos de estrada. Que esse legado inspire, mais e mais, as violeiras de nosso Brasil, e que esse espaço seja cada vez mais valorizado! 19