Religião e Conhecimento Material da Revista de Religião (3) | Page 13
O encontro das religiões: Quais os limites da pregação da paz?
paz?
A harmonia interpessoal e a esperança de uma justiça (divina) são geralmente fatores em
comum entre as variadas crenças religiosas. À vista de uma (con)vivência tanto inter quanto i ntra
pessoal não conflituosa, há (desprovidos de conotações gananciosas) por exemplo: no Cristianismo
católico em que cabe aos fiéis os mandamentos de não matar/causar dano e de não furtar, no
neo-paganismo Wicca a Lei Tríplice de ações cujo caráter retorna três vezes mais ao agente, e na
doutrina espírita onde Causa e Efeito acompanham os sujeitos em qualquer de seus exercícios.
Entretanto, seguidores das diferentes religiões ocasionalmente assumem uma acepção de justiça que
ultrapassa uma linha de “boa vizinhança”.
Por vezes se é possível encontrar notícias pela mídia, ou mesmo presenciar, de ocorrências onde
um meio/local religioso tenha sofrido ofensivas de indivíduos sob motivações de uma crença religiosa
alheia que se afirma aversiva à prática em questão. Mas nem sempre uma crença religiosa “dá” a
justificativa de uma direta ou radical proclamação de certo ou errado, tendo em vista que há de próprios
fiéis que se levantam pelo próprio senso de atitude para uma prática que ele (a) pode não enxergar
como intolerância. Não se deve acusar religiões de estarem a motivar os seguidores a tal, pois Stilwell
(1995) afirma que “É da natureza do fenómeno religioso formar nos fiéis a convicção de que devem
libertar-se de tutelas exteriores e, no que diz respeito à fé, submeter-se somente à vontade divina -
mediada da forma que a tradição ou a revelação ensinam.” (p. 64).
Torna-se quase inevitável a recapitulação de eventos religiosos históricos que deixam efeitos
até a contemporaneidade. Por todo o tempo religiões colidiram de alguma forma umas com as outras,
sendo em esforço a minimizar a notoriedade de outra ou em esforço a um consenso mais pacífico. Como
afirma Stilwell (1995, p. 59):
“Entre os benefícios que as religiões se propõem facultar aos seus adeptos, dos mais universais
é a paz. Basta, no entanto, olhar de relance a História para nos apercebermos de quantas vezes
a religião andou de mãos dadas com a guerra. E hoje, como sempre, ela encontra-se conotada
com inúmeras situações de conflito. Rara é a semana em que não se ouve falar de violências ou
ameaças à tranquilidade pública provindas deste ou daquele grupo fundamentalista - hindu,
judeu, cristão ou islâmico. Não é novidade. Noutras épocas também foi assim.”.
STILWELL, Peter. A Religião, Factor de Conflito e Potencial de Paz: Um Projecto de Investigação. Nação e Defesa . Portugal,
nº 75, p. 58-67, 1995.