Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 63
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principal bandeira de travestis e transexuais a ter que ser levantada. De acordo com
Gilmara, a falta do desenvolvimento de políticas públicas e atendimento de órgãos
governamentais para acolher a população LGBT de favelas, inclusive, em programas
de atendimento LGBT, é uma realidade.
Homenageada com a entrega da Medalha Tiradentes15, Gilmara Cunha, na audiência
para debater o tema, apresentou uma carta com diversas reivindicações ao programa
Rio Sem Homofobia e a Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos. Para ela,
é necessário primeiro retirar o véu da desumanização social em relação travestis e
transexuais o cotidiano. Somente depois dessa visibilidade, será possível avançar em
outros direitos. Confira a entrevista.
CDDHC: Quais são só principais desafios do movimento LGBT?
Gilmara Cunha: Pensando na perspectiva da população a qual eu represento, o
maior desafio é a existência. Não desmereço as outras políticas que tem sido um
avanço como a conquista do direito ao casamento e adoção, mas para essa população que está ainda à margem, é o direito à vida dentro da favela que é preciso ser
garantido. O movimento LGBT é um movimento de classe média. Então, pouco se
discute a questão da homossexualidade no espaço de favela, porque nem mesmo
o movimento LGBT entende as dificuldades vividas por essa população. Eu quero
respeito. Eu preciso existir nesse território e dentro dessa sociedade apesar dela a
todo momento dizer que eu não presto ou que não devo existir, criando estereótipos
negativos sobre a minha pessoa. Ser transexual, travestis, lésbica, gay, bissexual
em espaços de favelas é você levantar todos os dias e falar assim: Hoje eu preciso
me manter viva. É trabalhar, é buscar a escolaridade, pois hoje temos uma grande
evasão nas escolas em relação a população LGBT, justamente por não ter um ambiente escolar de respeitabilidade. O pedido é que a todo momento essas grandes
pastas governamentais olhem para essa população. Nós temos um programa no Rio
de Janeiro: o Rio Sem Homofobia com um trabalho de oito anos que em nenhum
momento criou políticas para a população LGBT de favelas. Isso é muito triste. Por
isso, eu digo: deixe-me existir. Eu quero existir nessa sociedade. Eu quero existir
enquanto pessoa e ser humano e não apenas por ser LGBT.
CDDHC: As pessoas LGBTs moradoras de favelas estão mais sujeitas a violência?
Gilmara Cunha: Não tem como mensurar porque homofobia é homofobia e ponto.
O que eu tenho dito é que as pessoas entendem homofobia só como agressão física,
mas homofobia transcende isso. Nosso corpo fala. Então, se eu estou num espaço e
as pessoas me olham de um jeito torto, ali está ocorrendo a homofobia. É claro que
a população moradora de favela está mais sujeita a isso porque se eu sofro homofobia na favela, eu não vou poder denunciar. Primeiro, porque o Estado não se faz
presente naquele espaço. Segundo, porque existe uma outra regra daquele território
15. O autor da proposta da
homenagem foi o deputado
estadual Flavio Serafini,
membro da CDDHC Alerj.
que impede essa população trans de poder acessar direitos. Então, o que fazer? Acho
que precisamos primeiro garantir a presença do Estado nesse território para construir
outro tipo de relação e não a existente, atualmente, em que estamos sempre à margem da sociedade. Sendo assim, é claro que se eu estiver na Avenida Vieira Souto, em