Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 63

62 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 principal bandeira de travestis e transexuais a ter que ser levantada. De acordo com Gilmara, a falta do desenvolvimento de políticas públicas e atendimento de órgãos governamentais para acolher a população LGBT de favelas, inclusive, em programas de atendimento LGBT, é uma realidade. Homenageada com a entrega da Medalha Tiradentes15, Gilmara Cunha, na audiência para debater o tema, apresentou uma carta com diversas reivindicações ao programa Rio Sem Homofobia e a Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos. Para ela, é necessário primeiro retirar o véu da desumanização social em relação travestis e transexuais o cotidiano. Somente depois dessa visibilidade, será possível avançar em outros direitos. Confira a entrevista. CDDHC: Quais são só principais desafios do movimento LGBT? Gilmara Cunha: Pensando na perspectiva da população a qual eu represento, o maior desafio é a existência. Não desmereço as outras políticas que tem sido um avanço como a conquista do direito ao casamento e adoção, mas para essa população que está ainda à margem, é o direito à vida dentro da favela que é preciso ser garantido. O movimento LGBT é um movimento de classe média. Então, pouco se discute a questão da homossexualidade no espaço de favela, porque nem mesmo o movimento LGBT entende as dificuldades vividas por essa população. Eu quero respeito. Eu preciso existir nesse território e dentro dessa sociedade apesar dela a todo momento dizer que eu não presto ou que não devo existir, criando estereótipos negativos sobre a minha pessoa. Ser transexual, travestis, lésbica, gay, bissexual em espaços de favelas é você levantar todos os dias e falar assim: Hoje eu preciso me manter viva. É trabalhar, é buscar a escolaridade, pois hoje temos uma grande evasão nas escolas em relação a população LGBT, justamente por não ter um ambiente escolar de respeitabilidade. O pedido é que a todo momento essas grandes pastas governamentais olhem para essa população. Nós temos um programa no Rio de Janeiro: o Rio Sem Homofobia com um trabalho de oito anos que em nenhum momento criou políticas para a população LGBT de favelas. Isso é muito triste. Por isso, eu digo: deixe-me existir. Eu quero existir nessa sociedade. Eu quero existir enquanto pessoa e ser humano e não apenas por ser LGBT. CDDHC: As pessoas LGBTs moradoras de favelas estão mais sujeitas a violência? Gilmara Cunha: Não tem como mensurar porque homofobia é homofobia e ponto. O que eu tenho dito é que as pessoas entendem homofobia só como agressão física, mas homofobia transcende isso. Nosso corpo fala. Então, se eu estou num espaço e as pessoas me olham de um jeito torto, ali está ocorrendo a homofobia. É claro que a população moradora de favela está mais sujeita a isso porque se eu sofro homofobia na favela, eu não vou poder denunciar. Primeiro, porque o Estado não se faz presente naquele espaço. Segundo, porque existe uma outra regra daquele território 15. O autor da proposta da homenagem foi o deputado estadual Flavio Serafini, membro da CDDHC Alerj. que impede essa população trans de poder acessar direitos. Então, o que fazer? Acho que precisamos primeiro garantir a presença do Estado nesse território para construir outro tipo de relação e não a existente, atualmente, em que estamos sempre à margem da sociedade. Sendo assim, é claro que se eu estiver na Avenida Vieira Souto, em