Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 28

RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 27 sendo poucas as que exercem atividades de gerência do tráfico. Neste sentido, as mulheres presas acabam ficando em segundo plano para o gestor do sistema, o que leva ao descaso histórico observado no que diz respeito às condições necessárias peculiares das mulheres nas unidades prisionais. Em diversas visitas aos presídios femininos, a CDDHC e o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura (MECPT) puderam constatar a falta de material de higiene pessoal, especialmente absorventes, e a inexistência de ginecologistas nas unidades femininas. Há ainda o abandono destas mulheres pelos seus companheiros, o que implica na ausência de visitação e, consequentemente, do recebimento de itens de uso pessoal que normalmente são fornecidos pelos familiares. No Rio de Janeiro, as mulheres representam 10,5% da população carcerária. A equipe do MECPT esteve no Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, no dia 29 de setembro de 2015. A unidade tem capacidade para 299 mulheres, mas contava com 375. Havia 27 grávidas na penitenciária. Além da falta de assistência médica, elas reclamaram da má qualidade da alimentação. A última refeição é servida às 17h. Outras violações de direitos humanos foram constatadas, com destaque para o caso da interna Bárbara Oliveira de Souza, que no dia 11 de outubro deu à luz sozinha em uma cela de isolamento. As internas da unidade relatam que Bárbara passou a noite gritando e só foi atendida no dia seguinte. Segundo as presas, Bárbara deixou o pavilhão com o cordão umbilical pendurado e a placenta ainda dentro de seu útero. “É inadmissível não existir uma ginecologista no Talavera Bruce. Não dá para assistir isso. O desmonte da área de saúde dentro do sistema penitenciário é um absurdo. Não é de agora, ele é estrutural. O caso da Barbara veio a público, mas nos 27 anos que acompanho o sistema penitenciário, assisti há outros casos de presas grávidas parecidos. Não é um caso único”, criticou Marcelo Freixo, presidente da CDDHC Alerj. As condições sobre às quais as mulheres grávidas estão submetidas foi tema de audiência pública da CDDHC em parceria com a Comissão dos Direitos da Mulher, em 9 de novembro de 2015. Na ocasião, foi apresentada a pesquisa de Saúde Materno-Infantil nos Presídios, feito pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, entre fevereiro de 2012 a outubro de 2014. Uma das violências mais graves destacadas pelo estudo é o alto índice do uso de algemas durante o trabalho de parto. Das mulheres entrevistadas, 86% foram algemadas no pré-parto e 91,6% após o parto. “É uma violência direta a mulher que não pode ao menos segurar a criança, além de uma violência ao bebê. A mulher está presa, mas a criança é livre, é um cidadão livre que precisa do amparo materno”, ressaltou a pesquisadora, Maria do Carmo Leal. No Dia internacional dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro, a Alerj aprovou o Projeto de Lei 504/2015, de autoria de Marcelo Freixo e outros deputados, que proíbe o uso de algema durante o trabalho de parto da detenta, no Sistema Prisional, e da interna no Sistema Socioeducativo. A lei é um avanço na garantia dos direitos das mulheres, já que viabiliza o tratamento digno. O uso de algemas só será permitido em casos de resistência, possibilidade de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte da detenta ou de terceiros.