Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 121

120 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 Em média, todos os dias, 25 jovens foram encaminhados ao Centro de Socioeducação Gelso de Carvalho Amaral, (CENSE-CGA), unidade responsável pela internação. A capacidade da unidade é de abrigar 64 jovens, mas convive com cerca de 250 internos. A superlotação é evidente. “Daqui a pouco eles vão virar morcego, vão ter que dormir em pé. A gente está no fio da navalha”, afirmou o diretor do Degase, Alexandre Azevedo, em audiência pública realizada, no dia 4 de novembro de 2015, pela Comissão de Direitos Humanos da Alerj. O sistema está à beira de um colapso por conta da demanda crescente. Em 2010, foram 2.806 jovens apreendidos; em 2014, 8.380; e em 2015, mais de 10 mil crianças e adolescentes. Essa realidade representa um aumento de 400% do encarceramento de adolescentes no Rio de Janeiro. Há uma óbvia opção pela política de reclusão, em vez da garantia de direitos. 5.7.1. JUVENTUDE PRIVADA DE LIBERDADE O crescente número de jovens apreendidos já havia sido denunciado pelo Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro. O problema foi intensificado após o Rio de Janeiro ser escolhido para sediar grandes eventos, como o Rio+20, Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Esse fato revela que, na prática, os megaeventos contribuem para a higienização do espaço urbano da cidade. Em conversas com servidores do Degase, verificou-se que, entre junho e julho de 2014, as audiências judiciais de adolescentes internados foram suspensas. Ou seja, jovens foram encarcerados antes mesmo do primeiro encontro com os juízes. Quando um adolescente é internado em uma unidade do sistema socioeducativo, um processo de exclusão anterior ao cometimento do ato infracional é consolidado. Um exemplo desse processo de negação da cidadania é que 95% dos adolescentes do sistema sequer completaram o ensino fundamental, e nenhum deles o Ensino Médio, segundo dados divulgados pelo próprio Degase. Cerca de 80% dos adolescentes que cometem atos infracionais têm entre 11 e 18 anos. A maioria dos jovens cumprem medidas socioeducativas devido ao crime de tráfico de drogas. Mais de 40% deles praticaram algum tipo de roubo ou furto, mas apenas 5% foram apreendidos com alguma arma letal. A lógica da cultura do encarceramento que mantém o funcionamento do sistema precisa ser invertida. O pressuposto deve ser a garantia de direitos e a promoção da cidadania dos jovens que já se encontram em situação de violações de direitos: à educação, acolhimento familiar, saúde, alimentação, moradia, entre outros. O ano de 2015 demandou esforços e articulações dos diferentes atores da garantia de direitos de crianças e adolescentes. Por isso, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca-RJ) conjuntamente com a Coordenadoria de Defesa da Criança e do Adolescente da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Cdedica), além do Ministério Público (através do CAOP-Infância e Juventude), promoveram encontros com diferentes instituições e coletivos para debater os proble-