Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 106

RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 105 como “Cavalos Corredores”. Informação confirmada por vários testemunhos de moradores obtidos pela Anistia Internacional. A entidade conseguiu apurar que as pessoas que levaram os jovens haviam sido identificadas pelo Setor de Inteligência da Polícia Militar como policiais do 9º Batalhão da Polícia Militar, em Rocha Miranda, e como detetives do Departamento de Roubo de Carga da 39ª Delegacia de Polícia da Pavuna, ambos na cidade do Rio de Janeiro. A investigação indicava que os policiais militares envolvidos vinham extorquindo algumas das vítimas antes do seu desaparecimento forçado. Mesmo com a publicização das informações, as investigações não avançaram e ninguém foi punido. As Mães de Acari receberam apoio da Anistia Internacional, em 1992, após a denúncia de que policiais militares as ameaçaram. Mas, um ano depois, em 1993, Edméia da Silva Euzébio, mãe de Luiz Henrique, uma das mães mais indignadas e empenhadas na luta por justiça, junto com a cunhada Sheila Conceição, foi assassinada23. Elas sofreram uma emboscada no estacionamento do metrô Praça XI, em 1993, após visitarem um detento no presídio Hélio Gomes. Apesar do paradeiro dos jovens nunca ter sido descoberto, a investigação foi encerrada em 2010. Após 25 anos lutando por justiça, as famílias continuam desmanteladas e com saúde mental e física comprometidas. Nenhuma delas recebeu indenização, apoio estatal, ou mesmo o atestado de óbito dos filhos. Em outubro de 2012, Marilene Lima de Souza, mãe de Rosana de Souza Santos, faleceu em consequência de um tumor no cérebro. Em agosto de 2003, Vera Lúcia Flores Leite, mãe de Cristiane Souza Leite, faleceu devido a problemas de saúde. Ana Maria da Silva, mãe de Antônio Carlos da Silva, e Tereza de Souza Costa, mãe de Edson Souza, também estão doentes e não conseguem atendimento na rede pública de saúde. Os anos sem resposta sobre o crime e o paradeiro dos filhos marcam o corpo e o estado emocional das Mães de Acari. Unidas pela luta por justiça, Dona Teresa e Dona Ana continuam tentando encontrar os filhos, mas se dizem cansadas. E com razão. No total, nove governadores passaram pelo Estado do Rio de Janeiro em 25 anos da Chacina de Acari, mas nenhum foi capaz de dar um fim à impunidade. A indiferença do Estado em relação à chacina, vem enterrando todas as Mães de Acari. 4.5.4. ENTREVISTA: TEREZA DE SOUZA COSTA “Dizem que crime prescreveu, mas a nossa dor não” O cansaço da dona de casa Tereza de Souza Costa, de 65 anos, é visível. Segundo ela, não há mais lágrimas para chorar, mas ainda chora. Também passa mal da pressão alta ao se emocionar relatando a luta em busca de algum paradeiro do filho ao longo desses 25 anos. Quando Edson Souza, à época, com 17 anos, 23. Em 11 de julho de 2011, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, recebeu a denúncia do homicídio de Edméia. Sete pessoas estão sendo acusadas, a maioria delas policiais militares, incluindo o ex-comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, então responsável pelo policiamento da região de Acari. Depois de 22 anos da morte de Edméia, o processo continuava na fase de instrução não havia sido encaminhado para o júri. Foi só em 2014, graças a um testemunho de que o assassinato da diarista havia sido planejado no gabinete do deputado Emir Laranjeira, que a Justiça do Rio de Janeiro encaminhou para julgamento os sete acusados pela morte de Edméia. O processo atualmente aguarda os recursos, mas a pressão deve continuar pela punição dos assassinos.