Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 75
74 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015
3.6.2. ENTREVISTA: THAINÃ MEDEIROS
“A criminalização transforma
‘justiceiro’ em herói”
Leon Diniz
Thainã Medeiros
defende que o racismo
culmina com um grupo de
brancos retirando negros do
ônibus com o argumento
de que são criminosos
CDDHC: O que é o Farofaço?
Thainã Medeiros: O Farofaço não deixa de ser um rolezinho com outra proposta. Ele
é a tomada de um espaço que é negado pela população de uma outra forma. As abordagens feitas pela polícia são discriminatórias. Quem é que definiu que uma pessoa
pobre, sem camisa, vinda da Zona Norte é uma criminosa em potencial? Isso não é
política preventiva. Política de prevenção é investir em políticas públicas, não tirar o
direito de ir à praia das pessoas.
CDDHC: O Coletivo Papo Reto, organizador do Farofaço, sofreu ameaças dos justiceiros?
Thainã Medeiros: Primeiro, esse fenômeno de justiceiros da Zona Sul correndo atrás
de favelado na praia não é novo. Na década de 90 foram publicadas notícias de jornal
sobre isso, à época dos primeiros arrastões na praia. Primeiro é preciso compreender
que o termo arrastão é uma criação midiática, o que é o arrastão? É um grupo de jovens que cometem assalto e isso acontece na cidade inteira. Mas, ao fazer o recorte
“praia” e identificar como algo que é muito perigoso, funciona para criminalizar uma
parcela da população. Na década de 90, existia um grupo que era denominado “grupos de funkeiros levam o terror à praia”. Uma perspectiva contra os funkeiros, porque
era início de um novo cenário funk e de um momento político-eleitoral importante,
pois tínhamos uma candidata negra, ex-favelada disputando as eleições para a cidade. O recorte midiático dizia que essa galera da favela estava indo para as praias
causar. Já naquele momento tinha grupos de lutadores de jiu-jitsu que faziam a segurança do bairro. E essa segurança era contra pobre, preto e favelado. Hoje isso só se