Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 99

Leon Diniz A luta de Vila Autódromo Por Regina Bienenstein & Fernanda Sánchez1 Vila Autódromo está situada ao lado do antigo autódromo da cidade, uma extensa área pública transferida para o Consórcio Rio Mais para a construção do Parque Olímpico. A comunidade vem sendo ameaçada de remoção desde a década de 1990. As justificativas têm sido as mais variadas, desde dano estético, prejuízos ao meio ambiente e até, mais recentemente, a suposta necessidade de viabilizar a implantação das alterações no sistema viário. Durante todo esse tempo, a Vila tem resistido, contando com o apoio da Defensoria Pública do Estado, de movimentos sociais de luta por moradia e profissionais engajados na luta pelo direito à cidade. 1. Regina Bienenstein professora titular da escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, Coordena o Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos da UFF e participou da construção do Plano Popular de Vila Autódromo. Fernanda Sánchez -Professora Associada II da Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense, pesquisadora do Laboratório Globalização e Metrópole, pesquisadora associada ETTERNIPPUR da Universidade Federal do Rio de Janeiro e participou da construção do Plano Popular de Vila Autódromo. 98 A Vila tem sua origem ligada à ocupação de pescadores e população de baixa renda às margens da Lagoa de Jacarepaguá há mais de 30 anos. Na década de 1980, os moradores se organizaram na Associação de Moradores, Pescadores e Amigos da Vila Autódromo para lutar por infraestrutura e investimentos públicos no loteamento que se iniciava. Vila Autódromo tem uma história peculiar: seu crescimento foi praticamente induzido por sucessivos governos da cidade do Rio de Janeiro. Já em 1989, durante o governo Marcelo Alencar, várias famílias oriundas da Comunidade Cardoso Fontes foram autorizadas a se assentarem no local. Um pouco mais tarde, em 1994, a antiga Secretaria da Habitação e Assuntos Fundiários do RJ, através do Processo Administrativo E-200011057/93, em decisão publicada no D.O. (04/04/94), assentou legalmente mais sessenta famílias em Vila Autódromo. Em 1997, cento e quatro famílias receberam titulação do Governo do Estado e, no ano seguinte, os moradores da faixa marginal da Lagoa receberam Concessão de Uso Real por noventa e nove anos (pela antiga Secretaria de Habitação e Assuntos Fundiários do RJ, D.O. de 31/12/98). Em 12/01/2005, a Câmara Municipal do Município do Rio de Janeiro definiu a comunidade como Área de Especial Interesse Social (Projeto 75-A/2004). Mesmo assim, as ameaças não foram interrompidas e a permanência e a urbanização da Vila Autódromo não estavam nos planos para a região que se valorizava. Num dos encontros com moradores de Vila Autódromo, o Prefeito reafirmou a necessidade da remoção, desta vez justificando como sendo uma necessidade para os Jogos Olímpicos, porém abriu a possibilidade da permanência, caso os moradores apresentassem alternativas. Daí nasceu a ideia do Plano Popular da Vila Autódromo. A partir daí, com a solicitação dos moradores de apoio para a elaboração de seu Plano Popular, a UFRJ (ETTERN/IPPUR) e a UFF (NEPHU e GPDU) começaram a atuar diretamente em Vila Autódromo.