Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 95

Uma vez estava sentada na minha porta com o meu filho e meu marido, e um policial mandou meu filho se levantar para revistá-lo. Eu concordei, mas pedi que o revistasse onde estava iluminado, porque eles o levaram para um canto escuro. E eles me disseram que eu não tinha o direito de decidir onde eles deveriam revistar o meu filho. Então, eu falei que, por se tratar de um menor de idade, eles teriam que abordá-lo na minha frente. Depois, as pessoas querem dizer que o pessoal da comunidade é sem educação, ignorante e arrogante. Mas, o que acontece é que não concordamos com a forma que eles se comportam. Se eles querem estar na comunidade, é importante que tenham uma boa convivência com o morador, com diálogo. CDDHC: Alguma coisa mudou depois da entrada da UPP? Lilian: O que mudou foi que não tem mais tiroteio aqui. Os nossos filhos podem descer sem correr o risco de receber uma bala 94 perdida. A outra mudança é que as pessoas estão alugando as casas de acordo com a UPP. Já que tem polícia na rua, o aluguel de uma casa com quarto, sala, cozinha e banheiro tá saindo por R$ 700. Aqui eu pago R$ 400. Quer dizer, que agora com o morro pacificado tudo valorizou? Mas os problemas continuam os mesmos: falta de água e de segurança, porque eu não me sinto segura com essa polícia. CDDHC: E como está o acesso aos serviços de Saúde? Lilian: Esse posto de Saúde da Família que existe aqui é um elefante branco. Todas as vacinas que preciso dar na minha filha estão em falta. Já estive de cama, sem poder levantar e não veio nenhum médico aqui. Que Saúde da Família é essa? A agente de Saúde que esteve aqui em casa para avisar que, depois de quase um ano, tinha conseguido marcar a consulta de oftalmologista para a minha filha para mais dois meses a frente. Essa é a Saúde da Família.