Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 93

dos”, afirmou. Esse sentimento é compartilhado por Carlos Roberto Monteiro que teve sua casa condenada pela Defesa Civil por estar em área de risco, na Vila da Paz. “Eu recebo aluguel social e pago uma casa logo abaixo da minha que foi derrubada pelo governo. Quando chove muito, eu fico com medo de desabar. Já fui na Prefeitura e em todo lugar que indicam para ver se agilizam a entrega do apartamento, mas ninguém resolve”. A CDDH solicitou os dados dos cadastros dos moradores para verificar junto aos órgãos responsáveis o que está ocorrendo e cobrar ações. Esse problema é o mesmo enfrentado por outras famílias atingidas pelas chuvas naquele mesmo ano, como constatou a equipe da CDDHC da Alerj, que realizou, junto à Justiça Global e parceiros locais, o  Ocupa Direitos Humanos no Borel no dia 10 de maio. Na ocasião, verificou-se que mesmo com a entrada do braço armado do Estado, os problemas da favela continuam os mesmos e outros foram acirrados. Cerca de 30 pessoas em mutirão nos diferentes pontos do morro fizeram atendimentos às demandas apresentadas pela população. As principais queixas e reivindicações estão relacionadas à falta de retorno do Estado com relação ao programa Minha Casa, Minha Vida e à coleta de lixo, ao desabastecimento de água, ao aumento das tarifas de energia elétrica e à abordagem policial realizada pela Unidade de Polícia Pacificadora do Borel. Lixo na rua e lata d´água na cabeça O desabastecimento de água é uma constante no Borel. Alguns moradores chegam a ficar uma semana sem água e quando a água cai na torneira permanece por apenas 30 minutos. Por isso, subir o morro com latas d’águas na cabeça é uma questão de sobrevivência e, para evitar desperdício, muitas mulheres lavam seus cabelos nos escassos pontos de distribuição organizados pelos próprios moradores. Somado ao problema está o fato de uma das caixas d’águas que abastece a comunidade ter rachaduras, há a preocupação de a estrutura ruir. “Já entrei em contato com a Defesa Ci- 92 vil e a Cedae, mas ninguém faz nada. Ficam naquele jogo de empurra-empurra. A caixa d’água está cheia e tenho medo de quebrar, estourar. Quando ela cair é que vão fazer algo, mas vai ser tarde demais”, afirmou Camila da Silva Lima. A irregularidade na coleta de lixo também causa transtornos aos moradores. A principal denúncia é a de que o lixo só é recolhido nas ruas centrais, enquanto becos e vielas são ignorados. Segundo Ivonete  Evaristo Ferreira, a prefeitura só limpa as ruas da Chácara do Céu quando acontece algum evento: “Só assim eles capinam e varrem tudo. Os moradores que fazem a limpeza das ruas, mas ainda falta conscientização”, disse. Terrenos das casas que foram demolidas por estarem em área de risco também viraram região de acúmulo de lixo. Além dos destroços e escombros deixados pelo poder público, a falta de coleta obriga os moradores a despejarem lixos nesses espaços. Outra reclamação é a falta de iluminação pública. “Várias lâmpadas de postes estão quebradas e durante a noite fica tudo escuro”, afirma Ivonete. O perigo da falta de iluminação soma-se às péssimas condições do asfalto no  Borel. Não são poucos os buracos nas ruas, que causam acidentes, principalmente entre crianças e idosos. Todas as demandas e denúncias serão organizadas pela CDDHC e pela Justiça Global que as encaminharão aos órgãos públicos com o objetivo de que os problemas sejam sanados. Haverá o acompanhamento das ações efetivas desses órgãos.  A Comissão de Direitos Humanos encaminhou as demandas coletadas ao longo da ação para os seguintes órgãos: CEDAE; LIGHT; RIOLUZ; Secretaria Municipal de Habitação do RJ; Secretaria Municipal de Obras do RJ; Subsecretaria Municipal de Defesa Civil do RJ; Geo-Rio; COMLURB; Comando Geral da Polícia Militar; Chefia da Polícia Civil; CPP - Coordenadoria de Polícia Pacificadora; Corregedoria Geral Unificada; Procuradoria Geral do Ministério Público-RJ; Secretaria de Segurança Pública – RJ; Secretaria Municipal de Obras do RJ; Secretaria de Esportes e Lazer do Município do Rio de Janeiro.