Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 92
Roberto Gevaerd
4.4. Ocupa DH
no Morro do Borel
Localizado no bairro da Tijuca, na Zona
Norte do município do Rio de Janeiro, a
ocupação no Morro do Borel teve inicio
na década de 1920. Habitantes do Morro
do Castelo e do Santo Antônio, no centro
da cidade, foram removidos e, em consequência, muitos migraram para onde hoje
é o Morro do Borel.
Polícia Pacificadora, projeto do governo
do Estado, entra nas favelas cariocas com
o discurso da guerra às drogas. A primeira
unidade foi instalada no Morro Santa Marta
no bairro de Botafogo, Zona Sul da cidade.
No Morro do Borel a UPP chegou em 2010.
Em 1954, a comunidade foi a pioneira na
criação de uma associação de moradores,
chamada de União de Trabalhadores Favelados. A associação teve êxito nas lutas contra a remoção de moradores e erradicação
das favelas perpetuadas pelos governos até
a década de 1980. Com a redemocratização do país após o fim do regime militar,
o governo inicia uma nova relação entre a
favela e o poder público. Alguns programas
de melhorias na infraestrutura foram implantados em 1983, tais como o “Projetos
de Favelas da Cedae – PROFACE” e o “Programa Cada Família um Lote” com grande
apoio dos moradores do Borel.
Durante a atividade que chamamos de
“Ocupa Direitos Humanos”, quando a
CDDHC vai à favela para levantar casos de
violação, percebemos que moradores do
Morro do Borel, marcados pela tragédia
das chuvas de 2010, ainda convivem com
a falta de esperança de ter uma moradia
adequada. “Esse jornalzinho aqui é o meu
documento”, disse Marcelo André ao exibir a reportagem que trata da dor e do desamparo de sua família após perder uma filha e duas netas no deslizamento de terras
no Morro do Borel, em 2010. A assistência
pública destinada a Marcelo se resume a
um aluguel social e à falta de informações
sobre a promessa de entrega de uma nova
moradia.
Ao longo da década de 90, a questão da
violência e do tráfico de drogas foi ampla
e insistentemente divulgada nos grandes
meios de comunicação, inclusive reforçando o constante crescimento no número
de pessoas mortas nas favelas e incursões
policiais. Em 2008, a primeira Unidade de
Após quatro anos da tragédia, Marcelo se
sente abandonado pelo poder público. “Eu
estou um morto-vivo, estou diabético emocional. Quando chove dias seguidos, meus
filhos se desesperam e querem sair de casa.
A gente quer uma casa segura, mas nunca
vieram me procurar. Estamos abandona-
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