Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 87

Roberto Gevaerd 4.3. A LUTA PELO DIREITO À MORADIA PÓS-TRAGÉDIA NA REGIÃO SERRANA Desde a fatídica chuva de janeiro de 2011, é possível afirmar que literalmente as cidades caíram. Alta densidade demográfica, relevo montanhoso e ocupação irregular de encostas e margens de rios e córregos, tanto em bairros populares quanto em áreas nobres, transformaram riachos bucólicos em caudalosos rios de águas grossas e destruidoras, e as encostas esverdeadas em cachoeiras de terra, fazendo desaparecer bairros e vilarejos da região serrana. Uma das questões observadas tanto na visita realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania da ALERJ, quanto nos documentos acessados, é a falta de planejamento e de transparência do que de fato (i) está sendo realizado, (ii) o que está previsto, (iii) onde haverá intervenções, (iv) as responsabilidades das ações, (v) o quantitativo de recursos mobilizados e (vi) como têm sido aplicados. Certamente, as prefeituras dos municípios atingidos não estavam preparadas e prevenidas, já que a regra da gestão urbana tem sido a correção, e não a prevenção. Por isso, podemos afirmar que era uma tragédia anunciada. Não é a toa que a face mais perversa dessa tragédia são as famílias que residem em 86 áreas pobres e mais vulneráveis que se encontram em áreas de risco. A associação das áreas de risco, alto e eminente, com a população mais pobre é a combinação mais provável. São as áreas que “sobram” para ocupação, evidenciando que o problema do déficit habitacional não se restringe apenas aos grandes centros urbanos. O descaso histórico com o controle do uso e ocupação do solo urbano e planejamento, além da ausência de uma política de prevenção e alerta junto à defesa civil, vêm pondo em risco a vida principalmente dos mais vulneráveis socialmente, se olhamos a situação de risco para além dos eventos da chuva. Diante desse panorama, podemos pontuar as seguintes questões mais evidentes na Região Serrana pós-desastre: • Falta de transparência da aplicação dos recursos e projetos em andamento; • Baixa efetividade do planejamento urbano e regional - a médio e longo prazo das ações nas escalas municipais e estadual; • Canais de participação, quando abertos, pouco efetivos por se limitar a apresentações de projetos e ações, incorrendo na