Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 79

que foram para o Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na hiperperiferia da Zona Oeste, em que o custo da terra é mais baixo e mais vantajoso para os investidores. 6. AZEVEDO, Sergio. "Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-86): criação, trajetória e extinção do BNH." Rev. Adm. públ., Rio de Janeiro, 22(4):107-119, out./ dez. 1988. 78 Neste contexto, o mercado é que dá as cartas, perpetuando o modelo de expansão territorial desordenada e nada democrática, além de reproduzir os erros do BNH (Banco Nacional de Habitação – 1968-1986) que capturou o ideal da “casa própria” para legitimar uma das ações mais eficazes de implantação de modelo empresarial de gestão (AZEVEDO, 1988)6. A construção de conjuntos habitacionais “a toque de caixa” legitima a lógica de redução do déficit pelo mercado. E assim como no período BNH, os conjuntos para os(as) mais pobres têm sido prioritariamente construídos na periferia. Obviamente os terrenos escolhidos foram os mais baratos, distantes dos serviços urbanos e sem infraestrutura. Neste caso, o setor da construção civil ganha novamente, pois se fazem necessárias obras de abastecimento de água, esgotamento, iluminação pública, etc. Quem disputa uma melhor localização na cidade vê a criminalização de suas reivindicações. Tornar a moradia algo acessível é também tornar a cidade acessível a to- dos(as). Por isso, a disputa pela localização na cidade é fundamental. Não estamos negando a importância de construir habitação social, mas esta não pode ser a única solução. Inclusive, se analisarmos o padrão dos projetos arquitetônicos do MCMV, não há flexibilidade na sua planta, o tamanho das unidades são mínimos, desconsiderando os diversos perfis de família. Além disso, muitos moradores(as) de favelas e de bairros periféricos utilizam parte de sua casa para o seu ganha-pão, ou seja, a residência não tem apenas função de moradia, mas também função econômica. Este aspecto também precisaria ser considerado nas propostas de conjuntos habitacionais. As experiências de autogestão seriam uma alternativa interessante para que se proponham projetos diferenciados conforme o perfil de residentes beneficiados(as). Certamente, instrumentos técnicos colaboram, mas não são suficientes. A garantia de espaços de participação popular é essencial para que, de fato, haja um debate democrático para construção da política habitacional e urbana, e sejam tomadas decisões que considerem as reivindicações da população. Por isso, entendemos também que o direito à moradia se garante quando incluímos todos(as) no debate político.