Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 46

Leon Diniz Vitória Grabois revela que o golpe militar retirou sua liberdade e identidade 50 anos do Golpe Militar – vidas, liberdades e identidades subtraídas Vitória Lavínia Grabois Olímpio, nascida em 1º de novembro de 1943, é presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro. Filha do comunista Maurício Grabois, fundador do Partido Comunista do Brasil e guerrilheiro desaparecido do Araguaia, Vitória viveu sua juventude na clandestinidade. Sua militância começou ainda na Faculdade Nacional de Filosofia, atual Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Ao reivindicar com outros colegas, em 1963, eleições diretas para direção da faculdade, o então presidente João Goulart a suspendeu. Quando retornou do período de suspensão, ocorreu o golpe militar e todos os alunos suspensos foram expulsos da Faculdade, incluindo o jornalista Elio Gaspari. A ditadura militar levou seu pai, Maurício Grabois, seu irmão André Grabois, seu companheiro Gilberto Olímpio, sua liberdade e identidade. CDDHC: Conte um pouco de sua história e a entrada na militância política? Vitória: Eu tive uma vida modesta. Meu pai era judeu e frequentávamos a comunidade judaica. Muitos judeus comunistas tinham um nível de vida de classe média, minhas amigas tinham um quarto só para elas, mas eu não tinha isso. Morávamos em um quarto e sala em Niterói e eu dormia com o meu irmão na sala. Quando tinha reunião do Partido, eu com 18 anos dormia com os meus pais no quarto para dar lugar aos companheiros que vinham de São Paulo. Imagine isso para uma adolescente? Então, eu dizia que nunca iria entrar no Partido e que iria cuidar da minha vida, seria uma antropóloga para trabalhar com os indígenas no interior do Brasil. Meu sonho era ser assistente de Marina São Paulo Vasconcelos, seu assistente principal à época era Darcy Ribeiro. Mas isso a ditadura militar me tirou. Quando entrei para a faculdade já havia cobranças relacionadas ao meu sobrenome, sempre me perguntavam o que eu era de Maurício Grabois. Mas a gente ainda respirava democracia. Quando fui suspensa da faculdade, negociei diretamente com o presidente João Goulart, tanto que estávamos na antessala do Jango quando o seu secretário nos informou que não poderia nos atender porque acabara de receber um telefonema do embaixador de Washington dizendo que Jonh Kennedy fora assassinado. O ano de 1963 foi lindíssimo, não esperávamos um golpe militar no ano seguinte. Com a ditadura, minha família toda passou para a clandestinidade e nos mudamos para São Paulo. Fui a Porto Alegre levar documentos que foram encaminhados para o Brizola no Uruguai. Lá me deram uma certidão de nas45