Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 20

Leon Diniz 2. A necessidade de avançar para um estado desmilitarizado Partindo da premissa que Segurança Pública é o resultado da articulação de diversas políticas sociais visando a defesa, garantia e promoção da liberdade, nos últimos anos o debate pouco avançou no sentido de superar a visão que a política de segurança restringe-se à questão policial e à matéria prisional. Um estado cheio de prisões e repleto de policiais não é um estado seguro, muito menos livre. drogas tornadas ilícitas. Com efeito, é exatamente a proibição a determinadas drogas tornadas ilícitas o motor principal da militarização das atividades policiais, seja no Rio de Janeiro, no Brasil, ou em outras partes do mundo. Hoje as estatísticas do país, e em especial do estado do Rio de Janeiro, confirmam que somos governados por um olhar militar que desenha “corredores de segurança” para garantir a circulação das mercadorias, conservar os bairros nobres da metrópole e proteger os trechos escolhidos para investimentos. Os resultados são de genocídio. Em 2013 foram registrados 50.806 homicídios, sendo 4.745 só no Estado do Rio de Janeiro, ficando atrás apenas da Bahia em números absolutos. A “guerra às drogas” não é propriamente uma guerra contra as drogas. Não se trata de uma guerra contra coisas. Como quaisquer outras guerras, é sim uma guerra contra pessoas. Os “inimigos” nessa guerra são os pobres, os marginalizados, os negros, os desprovidos de poder, como os vendedores de drogas do varejo das favelas do Rio de Janeiro, demonizados como “traficantes”, ou aqueles que a eles se assemelham, pela cor da pele, pelas mesmas condições de pobreza e marginalização, pelo local de moradia que, conforme o paradigma bélico, não deve ser policiado como os demais locais de moradia, mas sim militarmente “conquistado” e ocupado1. Vale destacar que a lógica do estado militarizado é justificada para garantir a “libertação” de comunidades/periferias pobres do jugo dos “traficantes” das selecionadas Ressalta-se que a militarização das atividades policiais não é apenas uma questão de polícias. Não são apenas as polícias queprecisam ser desmilitarizadas. Antes disso, 1. O paradigma bélico, explicitamente retratado na expressão “guerra às drogas”, lida com “inimigos”. Em uma guerra, quem deve “combater” o “inimigo”, deve eliminá-lo. Policiais – militares ou civis – são, assim, formal ou informalmente autorizados e mesmo estimulados, por governantes e por grande parte do conjunto da sociedade, a praticar a violência, a tortura, o extermínio. In. Karam, Maria Lúcia; Relatório CDDHC Alerj 2013. 19