Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 85

Leon Diniz Francisco Marinho fala sobre o descaso da prefeitura com a comunidade Vila Autódromo em uma corrida desleal A Vila Autódromo, em Jacarepaguá, é símbolo da luta contra as remoções. Os moradores reivindicam a permanência no local onde fincaram suas raízes, vínculos e história há décadas. A Prefeitura do Rio de Janeiro ignora toda a autonomia comunitária e se utiliza de seu peso institucional para pressionar a população a deixar suas casas e viabilizar a construção de equipamentos esportivos do Parque Olímpico, condomínios e hotéis de luxo. Além disso, a cúpula da Defensoria Pública do Estado, cuja principal obrigação deveria ser a proteção dos direitos dos cidadãos, se associou aos interesses do prefeito e garantiu, em março de 2014, a anulação da liminar que impedia a derrubada das casas de 300 famílias. O mais surpreendente é que a liminar que havia suspendido a demolição das moradias fora apresentada pelo Núcleo de Terras e Habitação (NUTH) da própria Defensoria. Ou seja, a Defensoria derrubou sua própria ação para garantir os objetivos da gestão municipal. Os moradores continuam na resistência contra a remoção e, por trás dessa luta, há histórias de pessoas que construíram suas casas e sonhos com dignidade, suor e honestidade. É o caso de Francisco Marinho e Pedro Paulo Franklin. O vigia noturno Francisco Marinho, 53 anos, com muito esforço construiu a sua casa e a da sua filha, que fica no sobrado. Segundo ele, ainda faltam alguns detalhes, mas as moradias estão “arrumadinhas”. Francisco contou que funcionários da Prefeitura intimidaram a população e repassaram informações falsas para tentar coagi-la. Em uma visita da equipe do Município à sua casa para cadastrar o imóvel na lista de demolição, ao afirmar que não deixaria o local, assustou-se com a resposta do agente público. “Eles disseram que eu tinha que sair. Me mandou ir para Austin, em Nova Iguaçu, porque quem não aceitasse essa situação se daria mal”, afirmou. CDDHC: Quando a Prefeitura iniciou o contato? Francisco: Foi em 2006, para fazer um cadastramento sobre urbanização. Eles mediram, fotografaram e filmaram as residências. Depois descobrimos que era um plano para demolir as casas. Só que a gente entrou junto com a Defensoria Pública para eles lutarem com a gente. Não houve nenhuma obra de urbanização. A prefeitura nunca cedeu para gente. Nós que tivemos que criar o ponto de ônibus e a ponte para as crianças irem para escola. 84 CDDHC: A Defensoria Pública tem apoiado vocês? Francisco: Muito. A Maria Lúcia Pontes (ex-coordenadora do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria) foi excelente. Ela luta até hoje com a gente como se fosse moradora. Mas tem alguns defensores que não falavam a nossa língua como o Nilson Bruno (defensor geral). Ele veio aqui uma vez e tudo que a gente consultava com ele, ele dizia que estava errado.