Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 14

Leon Diniz Rafael cumpre a pena em regime semiaberto no Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói Justiça para Rafael Braga O morador de rua Rafael Braga Vieira, 26 anos, foi o primeiro condenado devido às manifestações de junho de 2013. De uma família de sete irmãos, o rapaz que morava na rua há 13 anos desconhecia as motivações políticas que levaram as pessoas a se manifestarem naquele momento e sequer sabia os nomes do então governador e do prefeito do Rio. A sentença de cinco anos de prisão em regime fechado foi dada em primeira instância, sob a alegação de portar material explosivo e incendiário durante o ato do dia 20 de junho, que levou mais de um milhão de pessoas às ruas. O Tribunal de Justiça julgou, em agosto de 2014, o recurso de apelação de Rafael e reduziu a pena em dois meses. Em outubro deste ano, a Vara de Execuções Penais do Rio deferiu o pedido dos advogados do Instituto de Defensores de Direitos Humanos e concedeu a Rafael o direito de trabalhar fora do complexo prisional de Bangu. Desde então, Rafael é auxiliar de serviços gerais e cumpre a pena em regime semiaberto no Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói. Rafael reafirma sua inocência ao relatar que carregava garrafas pet com cloro e Pinho Sol. Eis uma entrevista concedida ainda em 2013. CDDHC: O que aconteceu quando você foi preso? Rafael Braga: Eles me abordaram, me bateram. Antes de sair para trabalhar naquele dia, vi que iria ter uma manifestação porque todo mundo estava reunido na rua e eu fui trabalhar. Eu cato latinha, garrafa e peças antigas na rua. Fico garimpando coisas no Centro do Rio. E quando voltei ao local onde dormia, um casarão abandonado em frente à Delegacia das Crianças, vi duas garrafas de cloro e uma de Pinho Sol, lacrada. Eu peguei para dar para uma tia que mora em outro casarão. Quando eu saia com estas duas garrafas, alguns policiais me cha- maram, já chegaram me batendo e perguntaram “O que é isto aí na sua mão?”. Eles me levaram para delegacia e falaram que eu estava preso. Na delegacia, vi que a garrafa de Pinho Sol estava pela metade. Não sei dizer se eles colocaram gasolina nela. Eles tinham colocado um pedaço de pano na boca da garrafa. CDDHC: Você já conhecia estes policiais? Já ouviu falar de coquetel molotov? Rafael: Não, mas eles falam que me conhecem. Nunca ouvi falar disso (coquetel molotov) na minha vida. Não sei nem o que é este negócio de protestar. Não estava fa- 13