Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 101

larizada, este está sendo o caminho escolhido pelo governo municipal. A Prefeitura oferece duas alternativas para as famílias que decidem sair: mudar-se para um apartamento do Programa Minha Casa Minha Vida no “Parque Carioca” ou receber um valor por sua casa que varia, de caso para caso, tendo atingido em alguns casos R$ 2 milhões. Com esta estratégia, uma parte das famílias já saiu da comunidade. Logo após a mudança das famílias, as casas são destruídas e o terreno esvaziado, ou são apenas inutilizadas, com os escombros deixados no local. Além disso, com o avanço das obras do Parque Olímpico, o muro que dividia a comunidade do antigo Autódromo foi demolido, as árvores que sombreavam toda a Rua do Autódromo, no correr do muro, foram derrubadas. Hoje, a situação corresponde a um verdadeiro campo de batalha. Ainda assim, perto de 200 famílias resistem e continuam a lutar pela permanência, sempre reivindicando a urbanização prometida. A pesquisa sobre a história da cidade do Rio de Janeiro, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, quando foram removidas favelas das áreas nobres da Zona Sul carioca, evidencia registros contundentes, memórias do sofrimento daqueles cidadãos que se viram obrigados a romper relações sociais e de amizade, indo morar na Vila Kennedy, Cidade de Deus ou Parque Aliança, como ilustra o filme recentemente lançado “Remoção”, de Luiz Antônio Pilar e Anderson Quack. Também no caso de Vila Autódromo diversas reportagens e documentários têm relatados fatos semelhantes, sem alterar a disposição da Prefeitura de realizar a remoção. 100 Professores e urbanistas que se dedicam ao estudo da habitação de interesse social em suas diferentes formas nas cidades brasileiras não poderiam imaginar que a nefasta cultura da remoção, que havia sido erradi­ cada e substituída pela cultura da urbanização de favelas, conquistada mediante tantas lutas sociais no Brasil, voltaria com tamanho vigor. Eis que as remoções e o desrespeito aos direitos humanos voltaram à cena urbana como peças fundamentais da chamada Cidade Olímpica. Responsabilizar somente a Prefeitura e seus técnicos é uma visão limitada. O direito dos cidadãos cariocas de ficar em seus territórios, em seus bairros, em suas favelas reurbanizadas está ameaçado pela Prefeitura, mas, por trás dessas ações, estão empresas que vão se beneficiar com os negócios imobiliários, com condomínios que vão surgir nesses locais em disputa. A Universidade pública, em conjunto com os moradores de Vila Autódromo, tem repetidamente mostrado que é possível fazer Olimpíadas sem invadir um bairro popular como a Vila Autódromo, uma visão compartilhada com a Defensoria Pública, o que também é de interesse de outras comunidades atingidas por essa proposta de remoção dos trabalhadores pobres das regiões valorizadas da cidade. Os moradores, junto com as universidades, fizeram seu Plano Popular. No cenário sombrio da destruição de casas, este prêmio reforça o sonho e o desejo da construção de uma Creche, advinda dos recursos obtidos com uma conquist FR&V6