RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Resumo Executivo | Page 27
5. RELATÓRIO FINAL SOBRE DESAPA-
RECIMENTO FORÇADO: UM BREVE
RESUMO DO VOLUME 3.
“Da língua cortada,/digo tudo,/amasso o silêncio/e no farfa-
lhar do meio som/solto o grito do grito do grito/e encontro a
fala anterior,/aquela que emudecida,/conservou a voz e os
sentidos/nos labirintos da lembrança”. (Conceição Evaristo) 1
Desaparecer, sumir, jamais ser visto novamente é um destino cruel para a víti-
ma e para seus familiares. Como manter viva a memória de quem se foi? Como
lidar com a falta de informações sobre o paradeiro de um filho e sobre as reais
circunstâncias de seu desaparecimento? A dor de não saber carrega consigo
sempre um fio de esperança.
O volume 03 do Relatório Final da Subcomissão da Verdade na Democracia
trata das ausências e apagamentos produzidos por ação do Estado ao permitir
a continuidade dos desaparecimentos forçados, ao não elucidar os crimes, nem
responsabilizar os culpados e reparar os familiares.
Desastradamente, perguntei a Ilzidete Santos, conte-nos sobre a morte do Fá-
bio. Ela prontamente respondeu: “Não, Fábio morreu não. Eu ainda não tive
resposta. (...) Pra mim ele ainda tá por aí. O Estado ainda não me deu uma
decisão.” 2 Fábio jovem, negro, morador de Queimados na Baixada Fluminense
foi visto pela última vez em julho de 2003 entrando numa blazer preta, ao que
denotam os indícios, sob o comando de um policial militar.
Apesar de não existir dados oficiais sobre o desaparecimento forçado no Rio
de Janeiro, as circunstâncias de seu desaparecimento, o perfil traçado para os
desaparecidos naquela região (Baixada Fluminense), a persistência do racismo
estrutural e institucional, tudo leva a crer que Fábio está morto e seu corpo nunca
será encontrado. Sua mãe, no entanto, não se conforma com indícios, estatísti-
cas e estimativas. Ela quer respostas. Ela tem direito a respostas. Infelizmente,
sua situação é similar a de muitas outras mães e familiares que, provavelmente,
nunca terão sequer o direito de beijar a testa de seu filho e prestar-lhe as home-
nagens fúnebres de despedida.
À época da ditadura civil-militar os desaparecimentos de pessoas contrárias
ao regime eram nomeados como desaparecimentos políticos. 3 Oficialmente, a
Comissão Nacional da Verdade reconhece a existência de 210 desaparecidos
políticos. 4 A Comissão Estadual da Verdade do Rio, reconhece 07 vítimas de
1 - Conceição Evaristo, no livro “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala,
2008.
2 - Depoimento de Ilzidete Santos da Silva em 09 de outubro de 2018 no Laboratório de Estudos do Tem-
po Presente – IFCS/UFRJ, coordenado pela Profa. Maria Paula Aráujo, tendo como entrevistadoras Maria
Paula, Ivanilda Figueiredo, Simone Pinto, Barbara Fuentes, Thalita Maciel e com transcrição realizada por
Simone Pinto
3 - Ver BAUER, Caroline. Um estudo comparativo das práticas de desaparecimento nas ditaduras civil-
militares argentina e brasileira e a elaboração de políticas de memória em ambos os países - Tomo I
Disponível em:
https://www.academia.edu/8589956/UM_ESTUDO_COMPARATIVO_DAS_PR%C3%81TICAS_DE_DE-
SAPARECIMENTO_NAS_DITADURAS_CIVIL-MILITARES_ARGENTINA_E_BRASILEIRA_E_A_ELA-
BORA%C3%87%C3%83O_DE_POL%C3%8DTICAS_DE_MEM%C3%93RIA_EM_AMBOS_OS_PA%-
C3%8DSES Acesso em: novembro de 2018.
4 - Ver Relatório sobre Mortos e Desaparecidos da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em: http://
cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_3_digital.pdf
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