RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Relatório Final Desaparecimento Forçado na Democ | Page 60
Três corpos foram encontrados e identificados – Juan, Jonathan e Jorge Luiz. O modo como as mães
e familiares foram tratados na maior parte dos casos é significativo do racismo institucional que
permeia a atuação estatal.
Somados aos 82 casos indicados pelo PLID contabilizam-se 95 casos de desaparecimento forçado.
Esse número é apenas exemplificativo de uma realidade que permite indicarmos grande
similaridade de característica entre as maiores vítimas de desaparecimento forçado e de execução
sumária. Porém, o mais provável, é que esteja bem aquém da realidade. Mesmo assim, já nos foi
possível indicar a existência de 112 vitimas do Estado que simplesmente desapareceram após
contato com agentes do Estados. Apena 4 delas tiveram seus corpos encontrados, 2 foram presos;
1 retornou para casa e 1 fixou nova residência sem conhecimento da família.
05. A Crueldade da burocracia do esquecimento
O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos/ A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso./ O movimento vaivém nas águas-lembranças/ dos meus marejados
olhos transborda-me a vida,/ salgando-me o rosto e o gosto./ Sou eternamente náufraga,/
mas os fundos oceanos não me amedrontam/ e nem me imobilizam./ Uma paixão profunda
é a bóia que me emerge./ Sei que o mistério subsiste além das águas.
(Conceição Evaristo)
À todas as mães e familiares que resistem à burocracia do esquecimento.
Esquecer, deixar para lá, não mais lembrar….Pode ser uma atitude individual, mas também uma
política institucional. Se não há um cuidado com a prevenção de determinados crimes, se há
reiteradas falhas institucionais que vem sendo ignoradas por falta de investimento público e que
comprometem a identificação de cadáveres e ossadas, é possível expor uma burocracia do
esquecimento que “esconde” os mortos ao invés de identificá-los e entregar-lhes às suas famílias e
torna as mães e familiares vítimas indiretas do crime. Nos casos narrados no item anterior, é possível
ver o quanto os familiares, vítimas indiretas do crime, são submetidos a labirintos burocráticos, sem
nunca encontrar uma solução. No desaparecimento forçado, o Estado é responsável em todas as
etapas – desde o crime cometido até a falta de investigação, responsabilização, reparação e
memória.
I. Cemitérios Clandestinos, Rios e outros métodos de desaparecer corpos e a falta de investimento
público nos Institutos Médicos Legais
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